segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Feijão e Neve

12.00: Finalmente dormi até tarde. Hmmmmmmmmmmmmmm. Que delicia de soninho. Quarta-feira, e eu posso dormir até 12.00. Hoje o dia promete. Feijoada com os amigos. Feijããããããão! Foi o que eu ingenuamente pensei numa quarta-feira qualquer.

15.00: Em direção à casa da amiga onde a feijoada seria servida. Antes de chegarmos lá, todavia, preciso contar uma coisa. Temos uma amiga de muletas. Ela estava rezando, se apoiou muito nos joelhos na hora do Pai Nosso e fudeu um deles. A gente se reveza, então, pra cuidar da nossa beata. Esse era o meu dia, mas eu estava de tão bom humor, uma vez que dormi até tarde, que não me importei. Isso até ver que do carro até a porta da casa da moça não tinha um passeio, tinha uma pista de patinação. Eu olhei pra beata, olhei pra pista de patinação... (depois que cai a neve, se chove, é só botar os patins e se divertir) A primeira reação que eu tive foi sair correndo na frente com a feijoada. Eu tinha que deixar ela a salvo antes de qualquer coisa. Dito e feito. Deixei o feijão em casa e fui atrás das muletas. Não vou me alongar muito nisso, pois na vida real já se alongou o suficiente: meia hora pra cem metros. Dá pra acreditar? O resultado foi isso aí:





18.00: Tudo comido. Passando mal pós-feijão. Conversa vai, conversa vem. Um rapaz sem o que fazer resolve brincar com o chifre de diabo de uma fantasia de criança. Criança cuja mãe era a dona da casa em que estávamos. O que esse singelo mineiro faz com a delicadeza de suas mãos? QUEBROU O CHIFRE. Olhou pro lado, olhou pro outro... O que fazer? Tentou encaixar de um jeito, tentou encaixar de outro. Ui, de outro deu certo. O resultado foi o seguinte: ele falou que desse jeito era mesmo mais contemporâneo, mais elegante. Diaba da moda.

A dona da casa, claro, não viu quem foi. E eu acabei sendo culpada do fato porque eu usei o chifrinho pra performances. De qualquer forma, aqui está a prova (com atenção dá pra ver que ele está encaixando o chifre na posição equivocada):


18.30: Bora pra outra casa fazer festa? Booooora... Chegamos lá, bebemos o vinho quente típico da Alemanha (Glühwein), cerveja. E tinha um danado dum cachorrinho feio que nem o demônio. Eu e meu amigo do chifre ficamos a noite inteirinha fazendo piadas com o pobre coitado. Mas ele saberia como se vingar.


01h00. Tínhamos pedido um táxi há mais ou menos duas horas. Ele não chegava. Disseram que era culpa de um tal de Schneechaos (caos da neve), e eu achava mesmo que era culpa da preguiça dos taxistas de sair de casa em dia tão nevante. Afinal, os ônibus ainda estavam rodando e havia muitos carros na rua. Comparando como sempre: se fosse no Brasil, os taxistas tinham era contratado o homem da neve pra não deixar parar de nevar. Ninguem ia querer pegar trem, e eles iam faturar um babado. Ok. Na Alemanha, é diferente. "Dormimos aqui ou vamos embora?" Foi o que a moça manca e operada me perguntou quando percebemos que seria tarde demais pra voltar pra casa voando." Hm... Ok, ok. Vamos pra casa, não pode ser tão difícil assim."

Saímos de casa felizes e sorridentes. As primeiras montanhas de neve não foram mais difíceis que divertidas. Ela com suas duas muletas sorridentes, eu preocupada com o fato de o cachorro ter mijado no meu pé. Preocupada, não. Puta! Saindo de onde estávamos pra ir pra casa, um cachorro de tamanho bem menor do que uma ratazana do Mercado Central de Belo Horizonte (lembram do cachorro feio como o diabo?) mija no meu pé. Como? Exatamente no intervalo entre tirar o sapato de casa e colocar o sapato de rua. Quando eu percebi, já estava toda mijada. Maravilha. Ele se vingou. E eu tive que ir à neve com o pé molhado de xixi. Por que ele não mijou um pouco antes? Porque ele não queria que desse tempo de secar. Será que o pé vai congelar? Era o que eu estava pra descobrir. E o pior é não poder xingar a dona do cachorro, que afinal não tinha culpa alguma e me recebeu com carinho em sua residência. É a vida.

Voltando a neve, ao ponto de ônibus, ao frio... Conseguimos finalmente alcançar o ponto de ônibus pretendido, ainda que a neve não estivesse simples de ser ultrapassada, ainda que as muletas próprias para a neve não fossem próprias pra taaaanta neve. Eu já havia olhado o horário do trem. "Tá tudo certo! Em poucos minutos, ele deve passar..."

01h20: trem? Que trem?

01h40: que merda de trem é esse que não passa?

Nesse meio tempo, chegaram ao ponto dois moços. Um muito conversado, queria saber de onde vinham as moças simpáticas e bronzeadas – pros padrões alemães, claro. O outro, caladão, não falou nada, mesmo. Só ficou olhando com uma cara de bobão. Conversamos um pouco com aquele que queria conversar: ele perguntou se já tínhamos visto neve, perguntou o que aconteceu com o pobre joelho da manca. Eu não conversei muito, só o suficiente. Ela, mais que o suficiente. Inclusive em português. Ainda que more há alguns anos na Alemanha, ela ainda tem aquele desejo de falar português como segredo. A gente pode falar português pelas ruas e dizer coisas realmente baixas. Palavrões, mal dos outros, pornografias... tudo que vier à cabeça e parecer engraçado na hora, pros outros brasileiros também rirem. Quantas vezes não ouvi alguém xingando alguém com um sorriso nos lábios: basta sorrir bem gostoso e dizer entre os dentes “sua puta, filha da mãe, desgraçada, quenga”. Funciona. Foi o que ela fez. Rimos.

02:00: Lá vem um ônibus do outro lado da rua. Não passava mais trem por causa do tanto de neve nos trilhos. tínhamos que ir de ônibus. E saímos correndo, atravessando pelas linhas do trem. Quer dizer, tentamos sair correndo. Ela estava mais era coxeando mesmo. Mas tudo bem. Alcançamos o ponto, mas adivinhem? Onibus errado. Tudo certo. Pelo menos agora sabemos que ônibus continuam passando e que teremos alguma chance de chegar a casa. Nesse momento, o caladão (lembram dele?) fala algo sobre o frio na Alemanha, ou faz uma comparação entre o tempo na Alemanha e no Brasil. Qual o problema? Em PORTUGUÊS!!!!!!!!

"Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Ele fala português ou ele decorou essa frase?" Não sabíamos e não queríamos descobrir. Não demos papo pra ele em português. Não, não, não. Mas, obviamente, eu ri sozinha mais um tempo e ela ficou sem reação, enquanto ele continuava a olhar com aquela cara indecifrável de bobão – seria cara de triunfo? Melhor não pensar. Aqui, entretanto, eu gostaria de lembrar que eu avisei a ela que alguém poderia estar nos entendendo. Ela deu de ombros. Sem mais.

--:-- Agora já era tão tarde que eu não queria mais olhar o relógio. O que faremos? Ok, ok. Nos rendemos. Vamos voltar à casa da amiga do cachorro mijão. Eu sei, ele vai querer dormir com a gente. Afinal, não é lá que ele dorme? Onde a cama estava arrumada? Rs. Eu sei, antes agüentar um cão do inferno quente do que um frio do cão – huhuhu. Como eu to engraçadinha. Isso porque vocês não sabem o que passei... "Liga pra ela, liga pra ela..." "Ok, tudo certo. Ainda temos camas, vamos voltar."

Mais ou menos dez minutos depois, já a meio caminho do lugar onde ganharíamos camas felizes, o que aparece como um ponto de esperança? Um trem, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um treeeem... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Alcançamos o ponto. E?! Era o trem errado... era o trem errado... era o trem errado... E, segundo constam nos autos, o joelho dela já estava latejando. E o meu pé? Que pé? Eu não sentia mais meu pé. No máximo, o cheiro que ele exalava.

"Ok, agora tá decidido. Aconteça o que acontecer, vamos dormir com o cachorro. Não dá pra ficar mudando de idéia assim. Certo?" Certo. Novamente há meio caminho, já tínhamos caminhado o suficiente pra uma eternidade. O que me aparece como um ponto de esperança? Um ônibus, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um onibuuuuuuuus... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Antes de alcançar o ponto, entretanto, uma tragédia. Ela escorregou. Eu estava atrás e consegui segurar – há tempo de ela não cair debaixo do ônibus que já passava do nosso lado. Ela entrou no ônibus, agora com hemorragia interna no joelho operado (isso só fomos descobrir quando ela foi ao medico no dia seguinte), e eu ria. E ela chorava. E eu fiquei com dó e ela riu. No fim, ela me perguntou com um olhar de quem sentia dor e não tava mais entendendo as coisas direito:

“Acontecesse o que acontecesse, nós não íamos dormir com o cachorro?” Ai ai.

Descemos do ônibus, mas, claro, no ponto errado. Um ponto antes! Essa foi minha culpa. Ela já tava fudida mesmo, e eu não tinha pé. Então, ela tirou uma foto minha pra eu postar no blog nossas aventuras pelo dia do Schneechaos.


Eu amo Jena. Eu amo quarta-feira!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ah, Berlim.




Chegar em Berlim teria sido uma emoção, não fosse o fato de que eu babei de dormir a viagem inteira e, quando chegamos, eu so conseguia pensar: merda, eu dormiria mais umas cinco horas. Fato. Eu estava cansada. Devido à danada daquela doença de que já lhes contei. Tomei um remédio que importei do Brasil, mas esqueci que ele dava um soninho...


O Gustavo, por outro lado, não havia tomado remédio algum. Mas, coitado, tão meu amigo. Tao querido... Foi logo colocando em pratica o amor que tem por mim, se condoeu de me ver naquela situação, e me acompanhou. Delicia.







Depois, bom, que eu vi que não tinha mais jeito mesmo de dormir, peguei minha mala, entrei pro Hostel e resolvi relaxar. Já que já to em Berlim mesmo, vamo ver o que tem nessa cidade. Saimos pra passear.

Eu sabia que aquela era a cidade dos meus sonhos mais distantes de realização, e eu queria ver tudo, tudo. Alguem sugeriu andarmos por ai, comermos alguma coisa. Dito e feito. Qual a impressão que eu tive da cidade dos meus sonhos? Não sei. Eu fiquei tão apavorada com o tamanho do lugar que meu alarme brasileiro ligou: Assalto, morte, atropelamento. Fato que me acostumei com a vida tranquiiiila em Jena. Nada com que se preocupar, ninguém pra te matar. E em Berlim, plim. O meu botão de “sempre alerta” foi ligado.

Mas foi ligado com terror. Era uma excursão. Trinta ou quarenta pessoas. Que saíram pra passear, umas 15? Metade daqui desses lados do mundo e a outra metade de chineses. Todas meninas. Andavam como se estivessem em Jena. Ai, quanta tranqüilidade. Conversavam, riam, nem olhavam pros lados. Na hora, eu e Gustavo nos afastamos um pouco do grupo, a uns passos de distancia. Queriamos que elas andassem a uma distancia suficiente pra que víssemos toda a área periférica a elas. Ai, ai. Dá pra entender porque só os estrangeiros não sobrevivem no rio.

Nesse dia, conheci as moças da bota branca.



A gente andando calmamente na rua, e um monte de moças da bota branca nas calçadas. Em primeiro lugar, eu pensei : hm... Cambistas? Isso porque todas elas têm também pochetes, e tinha um moço conversando com uma e que, logo depois, ofereceu entrada grátis pras meninas singelas da minha excursão. Bom. Continuei andando, andando. E vi que as moças da bota branca não diminuíam. Não é possível que tem tanto cambista de bota branca assim na Alemanha. E, de repente, plim! Putas. Refleti, refleti, dava uma olhadinha aqui, outra aculá. Fato é: um taaaaanto de mulher gata. Mesmo! De verdade. Eu não sou nenhuma especialista no assunto (afinal o que fazer com uma puta? Hahaha), mas eu tenho certeza que aqui o negócio é melhor que no Brasil. Eu estava lá, embasbacada com tamanha diversidade e, princiapalmente, com o fato de ser absolutamente normal andarmos na mesma rua em que elas estavam, e... de repente... Uma dessas moças começa a andar exatamente do meu lado e a falar com alguém. Comigo? Comigo? De repente, ela para, eu olho para trás para acompanhar os movimentos da moça e o que acontece? Bato num poste de meio tamanho que estava bem na minha frente. Na hora, um ou dois espertinhos que estavam do meu lado entenderam a situação. Hahahaha. Eu fingi que não era comigo, me endireitei e continuei andando, como se nada estivesse acontecendo. Ah, Berlim!

Dormimos, comemos, fizemos aquelas coisas normais que todo mundo faz e... Bueno, a gte também visitou os lugares lindos que a gente sempre sonhou. O Brandenburger Tor existe mesmo, de verdade, verdadeira. E tem mais um monte de coisas bonitas na cidade. O museu da DDR, por exemplo, é a coisa mais divertida do mundo. Lá a gente pode mexer em todas as coisas que estão expostas. O sonho de toda criança que é obrigada pela mãe a ir ao museu.

Fomos também a um teatro de gosto duvidoso, humor alemão de altíssima qualidade. Hahahaha. E... Não foi nem de longe a minha viagem dos sonhos a Berlim, porque o esquema não era muito o meu. Mas foi a viagem a Berlim, a primeira. E já valeu. Se tudo der certo, volto lá em janeiro. Agora com mais tranqüilidade, pra ser mais feliz.

P.s.: Para ver a maioria dos museus em Berlim, é preciso ter um dia inteiro livre. Não acredite que você vai entrar, ver rapidinho e vai dar tempo de fazer outras coisas. Eu passei de quinta a domingo em Berlim, e tudo que eu fiz foi ver três ou quatro museus (o da DDR, até que é pequeno. Conseguimos em umas três horas, eu acho). A noite, deu tempo de visitar o portão de brandenburgo, um ou outro monumento. Hahahaha. É uma loucura.

Se eu saí a noite? Nããão. Essa vai ser, se deus quiser, uma história pro meu próximo post de Berlim.

E as fotos? Dentro da máquina, eu ainda não consegui tirá-las de lá... ai ai...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como anda a vida?

Sobre a vida noturna em Jena? Melhorou bem... Ui.


Primeiro: coloquei como terminantemente proibida a minha entrada em clubes com fama de nazis ou em que eu já tenha sido empurrada mais de duas vezes. Ou seja, parei de passar raiva. E quanto alguém me chama pra ir, eu respondo: “Desculpe, sou proibida de entrar lá”. Eles me olham com uma cara de “o que será que ela fez?” e tudo fica ótimo. Adoro a discrição estrangeira européia.

Segundo: a verdade é que não tenho 18 anos e, sim, 24, o que já muda certos conceitos de boas e más festas. Os Erasmus (estudantes estrangeiros) estão sempre por aí, na casa dos 18 a 20, o que os coloca no auge da animação. E não só por isso: muitos deles estão ficando longe do papai e da mamãe pela primeira vez, e querem curtir as festas! Tão errados?! Não... Lógico que não... Eu faria o mesmo. Mas não tenho saúde nem dinheiro, e, escolhendo melhor, só ganho.

Há um clube em Jena chamado Kassablanca. E o que eu descobri sobre ele é que é famoso em toda a Europa!!!! Sim, um clubinho aqui de Jeninha famoso em toda a europa. Por quê? Qualidade técnica impecável, djs de primeiríssima, espaço liiindo de morrer. Tem que ter um defeito? Tem: o preço não é de estudante. Mas vale a pena faltar a duas festas de estudantes pra ir ao Kassa uma noite só, moçada. O que mais tem lá? Shows lindos de viver. Outro domingo desse aí tocou uma dupla de irmãos brasileiros. Chorinho e samba, samba e chorinho, sei lá qual é qual. =) Só instrumentos, todos sentadinhos, e eu chorando de saudade da minha terra e pensando: Não há melhor jeito de se apaixonar pelo Brasil do que estando no exterior. Não há. Gustavo, inclusive, escreveu um post ótimo sobre isso, dizendo o que todo mundo queria dizer:

http://ogustavofoiali.blogspot.com/

O Kassa também é finalmente o clube alternativo com que eu tanto sonhei. Gente alternativa!!! Êêêêêê. Significa festa estranha com gente esquisita e até mesmo GAYS!! Sim, Gays. Outro dia teve uma festa de drags, todas as terças é bar gay. Hahahaha. Eu achei foi engraçado. Nunca fui ao dia de viado. Mas fiquei feliz, porque assim, como no Brasil, os lugares alternativos da Alemanha são lotados de gente estranha que é supereducada. Nunca fui tão bem tratada pelos alemães. Nunca recebi tantos pedidos de desculpa pelos encontrões que levei durante as danças! E eu finalmente elegi o meu lugar preferido pra dançar.

E o que mais?! Uma quinta dessas teve uma festa gay em pleno Rosenkeller. O que isso significa? Uma festa gay no centro da cidade tradicional, uma festa gay no bar mais estudantil e movimentado da cidade. E foi ótima também, pessoal. E não havia só gays lá. Conheci um monte de moços heteros e finalmente legais. =) Como eu amo festas alternativas! Como eu amo bicha dançando!!!! Quanta felicidade no meu coração.

Por fim, no mesmo fim de semana, tivemos a festa de aniversário da Annuka e o show dos queridos que vieram de belzonte só pra alegrar nossa semana no evento brasileiro. Nesse dia, vi também o documentário do Simonal com legendas em alemão. Inclusive, toda vez que eu ouço a história do Simonal, fico com a pulga atrás da orelha. Mais ou menos a mesma que eu tenho em relação à danada da Capitu. Um saco esse suspense.

Por fim, festejei até domingo de manhã, conheci um montão de gente mais ou menos doida e me diverti a valer. Esse post tem graça? Não. Mas eu precisava me redimir, porque andei só falando que Jena é um ovo em que não há nada pra fazer a não ser encontrar alemães que passam a mão na nossa bunda. E fiquei pensando... Se eu tivesse em belo horizonte e não conhecesse nada, eu COM CERTEZA ia parar em lugares tipo Sete Cumes (isso ainda existe?! Hahaha) e seria abordada por homens sem camisa e grosseiros. É tudo uma questão de futucar e achar a sua turma. E, sim, Marc, eu amo os alemães que eu amo. Eles são tããããããããããããão legais, ainda com todas as barreiras culturais que não me deixam entender certos comportamentos. Eu amo essa cultura, eu amo fazer supermercado e ter que enfiar uma moedinha de um euro no carrinho. Inclusive, POR FAVOR, leiam esse post do gusta sobre o supermercado. É maravilhoso e superdidático.

http://ogustavofoiali.blogspot.com/2010/11/fazendo-compras.html

Gente, tenho certeza que vou voltar de berlim com ótimas histórias pra contar. Esperem e verão! Não me abandonem só porque o meu aproveitamente nos últimos dois posts não foi o esperado.

Muitos beijos

p.s.: ja voltei de berlim. em breve, quentinhas da capital gelada e sob neve.

O tempo e a gente

Sim, eu sei. Há muito tempo eu não escrevo. Eu tenho tempo às quartas-feiras, e quarta-feira passada eu deixei passar. Essa quarta-feira, hoje, também está bem mais atarefada que o normal. Entretanto, escrevo, porque sei que compromisso é compromisso, e ele tem que ser realizado com ou sem tempo para isso.

Vou logo avisando que hoje estou sofrendo: estou doente – dores de garganta tão familiares, e amanhã viajo pra Berlim. Esperei essa viagem com todo o meu coração desde o dia que eu comprei o pacotinho de excursão. E, agora, estou doente. Belo saco. Tendo isso em vista, o post hoje parece ser menos honesto em matéria de humor. O que já aumenta bastante minha dívida com vocês, porque o ultimo também não foi lá esse primor. Sinto.

Sábado fez sol. Mas sol daqueles de cortar o coração. Saí de casa para almoçar com meus amigos Gusta e Carlitos e mais uma trinca de alemãs, e adivinha? Sol pra todo lado. Aquele sol lindo, que esquenta só um pouquinho, mas faz os passarinhos cantarem – e não estou descrevendo um filme da Disney. Até chegar à casa dos meninos é uma caminhada e tanto, e eu fui meio cantarolando, meio dançando. Eu senti uma felicidade tão legítima, porque era sem motivo. E percebi que a Alemanha faz coisas comigo, me deixa assim levinha de vez em quando. Aqui sofro das mesmas dores que sofria no Brasil – garganta, estômago, coração, não nessa ordem. E inclusive algumas dores são mais lacerantes e mais solitárias que no Brasil. Mas aqui nessa Jena tão pequena, nessa porra de caixinha em que eu resolvi entrar por cinco meses, eu consigo me sentir bem com uma sensação completamente nova de simplicidade. Simples assim.

Segunda nevou. Eu olhei pela janela e não poderia acreditar no que estava vendo. A chuva parecia grossa demais, a atmosfera parecia branca demais. Abri minha janela em um só movimento. E estendi a mão para fora, como se para pegar a brancura. Não peguei. Na verdade, na minha janela há uns fincos anti-suicidas (não sei como se escreve essa palavra, e a professora aqui tá com preguiça de olhar as regras de hífen). Cortei-me, sangrou. E eu que queria pegar o branco, só ganhei o vermelho mesmo. E um tanto bastante decente de vermelho, que sujou a minha janela. Quando eu fui limpa-la, com meu paninho azul, vi que floquinhos de neve-chuva tinham caído em cima da minha mancha vermelha. Sentei na cama, sem fôlego. Isso é final de poesia que acontece na vida real, no meio do dia. E, mais uma vez, a Alemanha me mostrou pra que veio. E eu a recebo, mais uma vez, com meus completos e reverentes (às vezes também irreverentes, rs) agradecimentos.

Nesse dia, saí de casa e continuou nevando até tarde. Tirei o guarda-chuva, e fiquei lá, feliz observando meu casaco salpicado de açúcar do confeiteiro doidão que acha que a gente é bolo. Claro, ganhei essa dor de garganta de que vos falo. E a sensação de que posso ser uma pretinha de bolinhas alaranjadas ou um mini-berlim recheado de geléia e salpicado de açúcar. E ainda é bonito o paradoxo que parece haver em SALpicar de AÇÚCAR. Viva o português! Agora, minha gente, não neva mais. Mas, da minha janela, tem uma montanha branquiiiiiinha. E as árvores dela, pessoal, são árvores de natal, verdinhas com pontinhos brancos. Eu olho pra fora e vejo Natal. Mein Leben schmeckt nach Weihnachten.

Mas todos os alemães, no fim das contas, acharam linda a minha embasbacação com a neve. Tirando foto e tudo do meu sorriso de criança descobrindo o mundo. Eles, entretanto, que tentavam me animar ainda mais, disseram: Mas isso não é neve, Ludmila, isso é Neve-chuva (Schnee-Regen). Você vai gostar mesmo quando vier a neve. Eu ri. E percebi com que loucura a gente se acostuma com as coisas. Queridos alemães do meu coraçãozinho, NEVE não é só NEVE, e NEVE-CHUVA não é só NEVE-CHUVA. Tenho que me lembrar disso pra chegar ao Brasil e tentar ver com olhos de enxergar.


E adivinhem? Enquanto escrevo esse posto passou um floquinho de neve-chuva na minha janela. Em homenagem a vocês, temos de volta nosso açúcar de confeiteiro.

Eu ainda tenho um tanto pra escrever. Vou escrever agora, mas fazer outro post. Sei lá quando publico. De repente, daqui a pouco. Hahahahaha

Amor, sempre.

domingo, 7 de novembro de 2010

Eu sou neguinha...

Oi, pessoal.

Eu achei que eu seria diferente de todos os outros intercambistas que conheço e que postaria com mais frequencia no meu blog. Pura ilusão! A verdade é que eu descobri que aqui as pessoas podem ter uma vida mais ou menos normal, de trabalhos e estudos, o que faz não sobrar tanto tempo como o imaginado para postagens de textos looongos como os que eu costumo postar. rs. Ok, ok.

Hoje, quem estiver esperando mais um dos meus textos bem-humorados de sempre, pode parar de ler por aqui. Rs. O assunto hoje é mais sério, finalmente. Neo-nazismo, cultura, complicações estrangeiras:

Bom, ao sair do Brasil, ouvi vários conselhos que achei bastante engraçados, do tipo: "cuidado com o neo-nazismo"; "cuidado que na alemanha você é preta"; "Não vai contando pra todo mundo seus pensamentos liberais, que você morre". Eu achei tudo isso uma bela palhaçada, e inclusive fiz várias piadas com esse conteúdo antes da minha partida. Certo, até certo ponto, é sim uma bela palhaçada, mas só até certo ponto.

Eu moro em uma cidade universitária que recebe muuuitos muuuitos estrangeiros, o que faz da nossa vida aqui bastante tranquila. Não temos medo de ir e vir, porque não precisamos mesmo ter, os casos de violência contra estrangeiros são tão raros que nem contam. Ainda assim, há um clima tenso em certas regiões da cidade um pouco mais distantes do centro. Há certos bairros em que a concentração neo é grande, e, logo, não é aconselhável passear por eles como turista bocó em copacabana.

O mais tenso acontece uma vez por ano. Em um lugar aqui perto de Jena acontece o encontro nacional da juventude neonazista. Como eu sei disso? Me contaram... Eu nao vivi e pode ser que nao viva, porque devo ir embora antes da data oficial. Como o encontro é aqui perto, o clima de Jena também fica meio tenso, principalmente entre os estrangeiros. Ouvi dizer que não é nada agradável, ninguém quer ficar andando por aí nessa época. Mas, na verdade verdadeira, parece que nada acontece praticamente. É direito das pessoas aqui fazerem encontros pra discutir quaisquer assuntos, então o governo também nao reprime esses encontros. Por outro lado, o governo é muito rígido com demonstrações neonazistas "mais enérgicas", como violência. rs.

Vocês lembram aquele club em que eu fui e sobre o qual escrevi aqui? Eu disse que foi uma palhaçada, que eu achava que o moço passou a mão na minha bunda e tals? Nesse bar, vez ou outra, eles não deixam os negros entrarem. Os negros chegam lá e simplesmente são barrados pelos seguranças louros e fortes. Sério! E as negras? Se elas forem jovens e atraentes, elas entram. Isso chegou até a parar no jornal aqui da cidade. Uma das pessoas que foi barrada colocou logo uma notinha no jornal. A primeira ironia da história é que o pub chama Havana Club. A segunda ironia é que as pretas gostosas entram. O neonazismo e o preconceito já foram menos safados. Rs. Um outro bar logo em frente ao Havana Club, o F-Haus, dizem que é pior. Tem concentrações mais regulares de nazis. Quem me falou isso foi uma alemã, que já namorou um cara da africa. Vai saber... Eu não vou lá conferir. Já fui uma vez, mas a festa estava tão ruim, que eu não aguentei ficar. A música era folclorica alemã. Quanto aos nazis? Não os vi, ou não os reconheci.

Sobre essa questão da cor, já há também histórias interessantes. Outro dia estávamos no bar e minhas amigas da Georgia soltaram que eu e o Gusta éramos pretos. Isso foi uma novidade pra nós, que nunca fomos chamados de negros no Brasil - ainda que sejamos pardos-, e começamos a conversar sobre esse assunto. Para elas, éramos pretos e pronto e acabou. A questão era a cor da pele, e elas nos mostraram como parecemos mais pretos do que os outros nas fotos. Hahaha. Realmente parecemos mais corados que os outros nas fotos, não muito dependendo da nacionalidade desses "outros", mas ainda assim na minha percepção as da georgia são tão pretas quanto eu, devido a cor do cabelo, à textura do cabelo, etc etc etc. Aí explicamos a elas que ficamos felizes em sermos pretos, que gostamos dessa identidade, ainda que não seja realmente uma identidade plenamente possível pra nós no Brasil. Explicamos todas as complicações, e elas demoraram a entender. Depois de tentarmos explicar a situação tim tim por tim tim, a pergunta essencial foi: "Por que vocês gostariam mais de ser identificados como negros do que como brancos se os negros têm menos dinheiro, menos acesso à educação, são vistos como mais próximos da marginalidade?" Essa foi uma pergunta bem mais difícil de responder. Tentamos, mas elas ainda ficaram pensativas, já que não seria vantajoso pra nós sermos negros.

Em uma festa, essa discussão voltou ao assunto. Dessa vez, eu estava rodeada de alemães, russos e havia mais um outro que, pela cor, deveria ser indiano. =) Novamente esse assunto voltou, sobre como a questão da identificação das raças é totalmente cultural, e uma alemã perguntou a um russo: "A Ludmila, pra vc, é negra?" Ele: "Claro que não! Tá doida?" E, olhando pra mim: "Não se preocupe. Você passou na prova." Nessa hora eu fiquei tão nervosa, tão nervosa, que todo mundo reparou. Fiquei puta. Aí ele falou pra eu nao ficar nervosa, que ele só tinha feito uma piada. Muito seca e com a cara pegando fogo, eu disse:

"Essa prova em que você disse que passei eu nem nunca fiz e não quero nunca fazer. Se isso foi uma piada ou não, eu não sei. Mas, se essa é uma piada comum entre os russos, eu vou te dar um conselho: Se voce encontrar brasileiros por aí, essa não é meeesmo uma boa piada. Inclusive não é piada, é preconceito".

Bom, o problema é que novamente nenhuma das pessoas entenderam porque eu tava tão puta. Na verdade, elas fizeram uma cara assim: "se você nao é preta, por que diabos tá nervosa, brasileira doida?" Nada fácil a vida de gente parda. rs.

Bom, mas voltando às feridas de Guerra alemãs, algumas coisas são aqui terminantemente proibidas. É proíbido falar por exemplo "Hitler". Quando queremos falar esse nome, por algum motivo, usamos a tática Harry Potter: "Aquele que não pode ser nomeado" ou "Voce sabe quem". Já até começamos a usar Voldemort, para ser engraçadinho. rs. Eu um dia esqueci e disse Hitler no ponto de onibus. Ui. O pessoal mais velho me olhou com cara de indignação, o mais novos com cara de perplexidade. Os estrangeiros riram. As coisas aqui ainda são tabus. Muitos jovens já são bem mais de boa com isso e não se incomodam com essas coisas. Até falam e comentam. Mas quem diria que o vilão de Harry Potter seria alemão, hein!? rs.

É claro que nao quero dizer com isso que a Alemanha é perigosa, que o neonazismo é forte e assustador. NÃO! Eu só estou dizendo que é verdade: aqui essa história está entranhada nos lugares e nas pessoas. Às vezes elas tentam esquecer, tentam ignorar, às vezes se indignam e fazem passeatas do tipo: "Não é possível comemorar enquanto a Alemanha existir" (essa eu vi com meus próprios olhinhos). Hoje perdi uma excursão para um campo de concentração aqui perto. Em breve vou lá sozinha e conto a voces.

Muitos beijos, sempre, e obrigado por terem lido até o fim.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Aventuras em Jena

Oi, gente.

Cá estou eu, com nada na cabeça pra postar e com a intenção de não escrever um testamento, mas nunca se sabe, não é? Vou começar do começo, coisa que eu não fiz nos outros posts, por falta de vontade. Frankfurt:

Eu e meu companheiro de aventuras Gustavo chegamos em Frankfurt e não em Jena. Tendo em vista que íamos chegar numa cidade grande e bastante conhecida da Alemanha, resolvemos então tentar um tal de couchsurfing. Esse é um site da internet em que pessoas de todo o mundo se inscrevem para fazer intercambio sem pagar, rs. Ou seja, voce encontra alguém no couchsurfing, pede para passar umas noites na casa da pessoa, ela deixa, e é supermassa. Fizemos isso em Frankfurt. O alemão que nos hospedou foi uma verdadeira gracinha... Até café da manhã ele fez pros três brasileiros malucos aqui - três porque a carol, namorada do gustavo, também foi. E é claro que eu o fiz beber cachaça, o que foi engraçado, porque ele ficou tentando fazer cara de paisagem e não admitir que é forte. rs. Essa história não tem nada de engraçado que possa ser publicado aqui, desculpe se voces estavam na expectativa, hahaha, mas é só pra indicar o site, que é bacanérrimo.

Esse foi o início, agora já pulo pro meio, com histórias mais engraçadas.

Outro dia fui treinar handball na faculdade, o que custa 15 euros por semestre. Siiim. Eu fui dar de brasileira descolada e pensei: coloco a roupa de jogar debaixo dos milhões de casacos, vou logo de tenis pra jogar, e maravilha. depois é só vestir tudo dnv e tomar banho em casa. Chegando lá, porém, depois de horas andando pra achar o maravilhoso lugar, eu entro e já logo dou de cara com a moça da portaria. Eu pergunto se lá é o handball e ela diz que sim. Mas olha pra mim com uma cara de desconfiança e diz: "Olha, mas você precisa trocar de tênis." puta que pariu!! Eu nao posso jogar com esse tênis? será que tem um tênis específico pro handball? depois percebi qual era o problema... nao se pode entrar nas quadras aqui com o mesmo tênis que se anda na rua. Maaaaaaas eu queria jogar. O que fazer nessa hora? O que vocês sugerem? Eu refleti, olhei pra moça com cara de quem nao entendia nada e disse:

"Whaaaaaaat?" Hahahahaha. Isso mesmo, eu fingi que nao entendia uma palavra do que ela disse e que falava só ingles. Aí ela começou a ficar desesperada, porque nao sabia falar inglês. Então, ela tentou uma frase mais simples: "vc nao pode entrar com esse tenis." Aí eu respondi: "Mas as pessoas jogam aqui sem tênis?!" Hahahaha. Infelizmente, chegou um moço que falava ingles e me explicou da seguinte forma:

"Voce precisa trocar de roupa e de tenis pra entrar". eu fingi que nao entendi a segunda parte e simplesmente perguntei onde eu poderia fazer isso. O detalhe interessante é que aqui eu nao consigo falar ingles, já que nao consigo pensar em ingles (o que é muito engraçado, porque no brasil eu consigo) e troco a ordem de todas as palavras (em alemão os verbos vao pro final da frase, por exemplo). Então, eu perguntei pro moço onde eu poderia trocar de roupa EM ALEMÃO. hahahahahahaha.

fui ao vestiario, tirei a roupa, esperei pra ver se a porteira do predio já tinha dado o vazante, e fui feliz pra quadra. Chegando lá, quem tava lá? a moça... aí comecei a olhar pra cima e pra baixo.. Sabem quando o professor faz uma pergunta dificil e vc nao quer responder e daí fica olhando pro abstrato fingindo que tá pensando em alguma coisa util? ou começa a mexer em papeis? pois é... foi o que eu fiz. hahaha. por fim, eu pensei que era a hora de conversar com ela. eu já tava toda vestidinha de esporte, nao é possivel que ela ia me expulsar. Aí eu disse:
"Desculpe, agora eu entendi o que vc quis dizer. eu nao posso usar o mesmo tenis aqui, nao é?"
ela abriu um sorriso do tamanho do mundo, já que agora ela percebeu que poderiamos nos comunicar. Mas eu já tava na quadra, fiz cara de cachorro perdigueiro e perguntei: "entao quer dizer que eu nao tenho permissão pra jogar?" Ela ficou com dó da pobre estrangeira infeliz e falou que abriria uma excessão, mas só dessa vez, hein? rsrs.

Aqui me ocorre uma coisa muito interessante em relação ao conceito de higiene dos alemães. Começo pela separação do lixo - isso nem é tanto higiene, mas sim consciencia ambiental. Eles simplesmente separam tanto o lixo que eu nao consigo acompanhar. Tem uma lixeira pra papel, ótimo. Uma pra resto de comida, maravilha. E uma outra pra vidro, claro... Mas eu nunca vi por aqui uma lixeira de vidro... Por que? Coisas de vidro nós podemos levar ao supermercado e trocar por dinheiro. Agora vocês imaginem se isso fosse no brasil? Catadores de latinha nunca mais iam catar latinhas, que ficariam abandonadas por aí. Já os bebados nunca mais iriam quebrar suas garrafas de caçhaca, porque seria "compre duas cachaças e ganhe uma ao devolver os cascos". hahahaha. Além disso, claro, nao precisariamos nos preocupar com vidro voando nos estadios de futebol ou nos shows. A gte nao ia mais ser obrigado a tomar cerveja naqueles copos de plastico horríveis. hahahaha. Maaaaaaas voltando ao mais importante: Ainda restam pelo menos duas lixeiras: uma é para o plastico. E a outra? Não faço a menor ideia. Quando nao sei se a coisa é feita de plastico ou de papel, eu jogo lá. hahahahaha.

Mas voltando ao que importa: higiene. O conceito de higiene aqui é tão louco que eu ainda nao entendo. Eles tomam banho? Ainda nao chegou o inverno rigoroso, mas eu acho que a maioria toma. Já tive a experiencia de uns tres ou quatro fedorentos, mas não é muito, não é? Mas as questões são mais profundas. Primeiro, normalmente nao se entra de sapato na casa do caboclo aqui. Você precisa tirar o sapatinho. Siiim, a galera tem chulé e aí fudeu. Além disso, meia furada nao dá, né, moçada? Além disso,voltando ao que é importante pra higiene, óbvio, nada de lixo na rua.
Bom, mas aí, né, gente, depois do almoço no delicioso bandeijão, eu pego minha maravilhosa escova de dente, encho de pasta e faço o que? escovo o dente. Ahhh. a resposta foi óbvia pra vocês? Não, aqui na alemanha nao é tão óbvio. Beleza escovar o dente ao acordar e ao dormir, mas depois das refeições?! Pra quê? Quando eu escovo o dente, as alemãs que entram no banheiro me olham como se eu fosse um OVNI. Passar o fio dental é como se eu estivesse usando o mesmo fio pra enforcar alguém. Eu já ouvi aqui coisas do tipo: "Voce nao pode escovar os dentes tantas vezes por dia. Faz mal pra eles, gasta..." O preocupante é que tem gente aqui de 18 anos com dentes de 90 e com cor de asfalto. Completamente assustador.

Uma vez o gustavo estava com chicletes de maçã, sem açucar, e ofereceu pra um russo. Ele disse: "nao, obrigado. faz mal pros dentes". Claro que eu nao consegui segurar o riso.

Mas a questão é: nao pise em casa com o tenis sujo e nada de não separar o lixo, mas o banho não é tããão importante assim. Não jogue lixo na rua e ande sempre com a roupa limpa, mas nada de escovar o dente mais de duas vezes ao dia. Uma já basta.

Outro caso muito interessante: cheguei na alemanha e to por aí andando, feliz. Aí estou na sala de aula e dou aquela fungada tipicamente brasileira de prova de vestibular (voces sabem que na prova todo mundo fica fungando, né? já repararam isso? muita gente acha que é pra irritar os adversarios, mas a verdade é que é incontrolavel. e, quando alguém faz, nós queremos fazer também, movimento contagiante. tipo bocejar, rs). A mulher do meu lado, muito simpatica, me ofereceu um lenço de papel. Eu agradeci e disse que não queria. Depois, fomos pra Weimar. Eu estava lendo os dizeres do túmulo da mulher do Goethe, algo muito respeitavel, e o meu professor me ofereceu um lenço. Eu disse não. Por fim, eu comecei a reparar no pessoal: Eles pegam o lenço de papel e dão aquela escarrada. No meio da aula, por exemplo, numa altura incrível. Nem sei como eles conseguem; isso deveria entrar pro livro dos records.

Mais tarde, encontrei o meu amigo Gustavo, que já tinha estado na alemanha, e eu disse a ele que as pessoas eram muito simpaticas, porque ficavam me oferecendo lenços o tempo inteiro. Ele me olhou com uma cara de riso e disse: "Lud, não é muito educado ficar fungando na alemanha. Eles acham que a gente tá com meleca no nariz e nao limpou. O que é completamente nojento pra eles." Oi?!Primeiro, eu nao to com meleca no nariz. isso é um movimento involuntário. Segundo, quer dizer que minha simples fungadinha é um horror, e que aquela catarrada no pobre lenço de papel é que é legal? Agora continuo sem coragem de usar com todo o afinco o lenço, mas fico controlando quantas fungadas eu dou e qual a altura delas. triste e engraçada realidade alemã. Novamente, uma completa diferença de noção de higiene. Até porque eles limpam o nariz graciosamente também ao se alimentarem no bandeijão ao meu lado.

Bom, acho que por hoje é suficiente. rsrs. Ainda quero muito falar sobre uns outros assuntos, mais sérios, como neonazismo e coisas assim, mas eu tenho que por um limite pro tanto que eu escrevo aqui. hahaha. Bom, fiz um flickr com fotos e video. Claaaaro, as fotos são só de paisagens, porque eu sou idiota e esqueci de tirar foto minha. mas eu juro que nao achei no google e postei. rs. Eu prometo que dá próxima vez posto fotos menos chatas. rs. mas, pra quem quiser:

http://www.flickr.com/photos/ludmilafonseca/

muitos beijos, sempre saudosos.

sábado, 16 de outubro de 2010

Jeninha

Antes de começar a escrever sobre as coisas daqui preciso falar sobre um ponto muito importante, aparentemente, para todas as pessoas que leem meu blog: a aparencia do blog. Ok. Eu sei, gente, o meu blog nao é o mais bonito do mundo, ele nao é atraente, ele é um horror. Certo. Mas o que eu posso fazer? Naturalmente eu nao sei deixa-lo mais bonito, naturalmente eu morro de preguiça de descobrir como se faz isso. Logo, pessoal, quem quiser deixa-lo mais bonito pra mim, basta dizer: eu mando login e senha, e a pessoa faz esse favorzinho pra tia Gudrum aqui. - Sim, Gudrum é um nome de tia velha da alemanha. Sério.

Muito obrigada por tantas demonstrações de carinho e de ansiedade pra novos posts. Mas voces têm que entender que nao posso postar sempre, porque senão acaba o assunto. Agora mesmo nao faço ideia de sobre o que vou falar.

Sobre as fotos, pessoal, to com outro probleminha. Tenho uma máquina fotográfica, mas nao tenho o seu cabo usb nem meu computador tem entrada para o seu cartão de memória. Logo... Mas eu estou pra procurar um cabo usb pra ela desde que cheguei aqui, e é aí que começam as histórias de hoje.

Aqui acontece alguma coisa com o tempo. Alguma coisa realmente absurda. No Brasil, todos sabem, faço mais ou menos um milhão de coisas por dia, ou seja, meu dia tem mais ou menos 44 horas e meia. Aqui, por outro lado, meu dia não passa de 09 horas. É impressionante. No fim do dia, eu estou morta de cansada, querendo ir pra casa dormir, e o que eu fiz? Almocei na Mensa - o nosso delicioso bandeijão -, fui a Wagnergasse tomar um café - a rua dos cafés aqui, que bomba, rs-, fui resolver alguma burocracia, voltei a wagnergasse. Plim. Fim do dia, todos pra casa, vamos lá... Por que eu disse que fui a wagnergasse tomar um café? todo mundo sabe que eu nao tomo café. Bueno, mas é porque aqui as pessoas me chamam pra tomar café e eu aceito. Quando chego lá, falo: Hmmm... Já tomei tanto café essa semana, hoje vou de chá de jasmin, ou quem sabe chocolate quente ou milkshake? haha.

Na Wagnergasse eu e Natuka (amiguinha da Georgia que nos ensinou aquelas palavras dificeis do ultimo post e fala portugues daquele jeito) já temos nosso café preferido: chama-se Rossini. E por que ele é tãããão melhor? porque lá se pode fumar. lá dentro. Aqui também tem aquela tal de política antifumo que todos os não-fumantes realmente adoram. Pois é. Mas por que no Rossini se pode fumar? Aí vem o melhor da história: A gente compra um cartão de sócio, no valor de 1,00 euro. Eu nao tinha entendido pra que servia, e perguntei naquela ignorancia do brasil, pensando que era um absurdo eles me fazerem pagar um euro pelo meu livre cigarrinho. Pois então: se a fiscalização chegar, eles têm dinheiro pra pagar a multa!!! Olha que sensacional!! Em Belzonte, se alguem fizesse isso, a fiscalização já ia bater todo dia na porta, e não ia ter cartao de sócio que sustentasse. Ups.

Engraçado aqui também é que as pessoas nao fazem a menor ideia da diferença entre salsa e samba. Hoje vai ter uma festa de salsa, e todas as pessoas pegaram os mosquitinhos pra mim, perguntaram se eu nao quero ir, se eu posso ensinar como dança salsa. hahahahaha. Eu sou muito muito bem humorada aqui, né, como eu já expliquei... Aí eu falo o seguinte: pessoal, salsa eu nao sei dançar, porque nao é beeeem brasileiro. Mas quem sabe funk? E eles ficam completamente chocados, e olha que estou longe de conseguir dançar um funk beeem dançado. Dia 27 vai ter uma festa brasileira aqui, organizada por algum lugar em que eu trabalho, rs, e vai ter um curso de dança, funk!! Eu já avisei pra gringada toda, eles estão superanimados. Eu já tentei fazer a galera dançar, mas realmente é completamente impossível - acho que é a minha falta de didática.

Mais uma coisa interessante sobre funk. Aqui a temperatura está variando entre 1 graus e 10 graus. E o pessoal realmente acha esse frio cortante. O que eu nao entendo é que, putz, todo mundo vem de algum lugar mais frio que isso. As meninas da russia, por exemplo, já estão na moda zwiebellook - o que significa aqui look de cebola, hahaha. Milhoes de roupas umas em cima das outras. Eu e o Gusta, não. Latinos, com molejo, nao estamos sentindo frio. Sério, nao to de gracinha. Eu coloco uma meia de lã debaixo da calça, um blusinha fina por baixo, um casaco, um cachecol e uma luva e estou óóóótima. O gusta as vezes nem meia por baixo. Mas o que isso tem a ver com funk? Todo mundo olha pra gente e fica louco: por que vcs estão vestidos assim?? Para voce nao está frio aqui? A gente responde, obviamente, "não". Estamos ótimos. Aí começaram a surgir teorias de por que os brasileiros não usam blusas de frio.

A primeira e óbvia: os brasileiros não têm casacos em sua terra natal. Lá é quente, todo mundo anda mais ou menos vestido. Então, quando faz um friozinho, como eles não têm casacos, eles têm que passar aquele frio e vão se acostumando a isso. Aqui nós estamos já muito vestidos, e a nossa situação passa a se equivaler àquela de quando estamos pelados sentindo frio no brasil. hahaha.
A segunda e ainda mais óbvia: brasileiros têm sangue quente. hahahahahah. Essa eu já ouvi um milhão e meio de vezes, e é aí que entra o funk. Depois de muito ouvir isso, eu e o gustavo resolvemos fazer um funk e publicar. Ele faz o tutitu atras, e eu canto:
Wir haben heisses Blut, Ai. Wir haben heisses Blut, delicia. Significa: nós temos sangue quente. Claro, já está virando um hit, e temos tudo pra ficar no primeiro lugar nas paradas de sucesso.

Ah, só pra constar: tenho certeza que mamae lerá esse post e pensará. Essa Ludmila, taí na Europa achando que é esperta, e é leeeeeerda. Se todo mundo tá agasalhado, até o pessoal da Rússia, ela tá achando bonito ficar mal agasalhada porque é leeeeeeerda. Nãããão, muti, não é verdade. Eu juro que nao estou tomando friagem, que bebo coisas quentes, que nao estou bebendo muito nem fumando muito. Mas devo admitir uma coisa: puuuuta merda, é um belo dum saco andar cheia de roupa na rua pra entrar em algum lugar e ter que tirar tuuudo. Porque o aquecimento realmente funciona. Aí, sai do lugar, veste roupa. Entra em outro, coloca roupa. Eu já perdi as contas de quantas vezes por dia visto e desvisto casaco, cachecol, luvas...

eu tenho mais um milhão de coisas pra contar, mas nao to conseguindo me lembrar. Ah! Ontem. hahaha. Ontem foi aniversário da Malene, uma dinamarquesa muuuito engraçada e gente boa. Ela é mais da nossa patota dentro do grupo de estrangeiros gigante. Aí a gte tinha que comemorar, e ela tinha que escolher tudo que tínhamos que fazer. A primeira escolha foi bacana: fomos ao japa. Comi até passar mal, nossa senhora. Foi gostoso. Pena que aqui nao tem self service nem rolinho primavera com molho agridoce. Mas teve caviar alaranjado e um super camarão tamanho família. fiquei feliz. Lá entregamos os presentes. Menos eu, claro, que esqueci o meu presente em casa. Não tem problema, entretanto. Já nos convidamos pra comer comida dinamarquesa na casa dela amanhã, então eu levo o presente. hahahaha. Bom, depois do japa, passamos num super trailer de batatas fritas. Gente, quanta tecnologia. Ao inves de comprar sanduba no trailler, voce compra uma supermarmita de batatas fritas com molhos diversos. As meninas compraram com molho pesto. Bueno, eu nao comi. Achei que era demais japa e batata frita. Dispois, fomos prum café/bar. Aí ficamos lá, tomei uma cerveja e o bar ficou cheio demais e nao cabiam todos os convidados que estavam chegando. Mudamos de bar. Lá conheci uma alemã suuuupergente boa que ficou me respondendo todas as duvidas sobre prefixos loucos do alemão: Anni, qual a diferença entre einschalafen, überschlafen, verschlafen, durchschlafen?Qual a diferença entre ansehen, sehen, anschauen e schauen? Qual a diferença entre probieren, ausprobieren e anprobieren? Coitada... hahaha
Mas, finalmente, fomos dançar mais tarde. Num tal de Havana Club. Gente, que lugar estranho. Isso sim é uma história escabrosa. O lugar é suuuperiluminado, apesar de ser uma boate. A gente fica vendo todo mundo, e, pior, a gte fica vendo os alemães dançando. Algumas horas eu nao conseguia achar o ritmo da musica, porque eu olhava pro lado e a pessoa tava fazendo algo tão estranho que eu me perdia. hahaha. Nao é brincadeira. É difícil relaxar desse jeito. Eu sei que ninguem tá olhando pra mim, porque pelo amor de deus neles, mas é complicado. Outro dado bizonho: as pessoas se batem o tempo todo. Eu não sei se estou acostumada demais a lugares mais alternativos, onde as pessoas tendem a ser educadas, mas eu fiquei assustada, nao consegui relaxar com isso também. Os caras passam atropelando qualquer pessoa, mulher, criança. rs. Tem uns que até com os cotovelos pra cima. Faz sentido? Aí é um empurra empurra, uma loucura. Curuz credo. Sobre a musica, nem vou comentar. E, pra finalizar, eu tava lá dançando, e de repente sinto uma mão na minha buunda!!!!!!!!!!!! Siiiiim, uma mão na minha bunda. Sabe aquela mãozinha delicada, só com os dedinhos? Eu me senti tãããão ofendida, putamerda, que nem falei com ninguem pra nao voar no cara. Tenho certeza que aqui eu ia apanhar igual gente grande se eu voasse no cara, então engoli o choro. Mas,sério, se eu nao arranjar algum lugar razoavel pra ir, nada de sair à noite. É bom que economizo dinheiro.

O dado interessante é que nem as mulheres meioooo soltinhas da alemanha, se é que vcs me entendem, sabem dançar direito. Hahaha. Fiquei lá vendo elas dançarem, e achei muito engraçado como a sensualidade vem só e apenasmente da intençãode sersexy, porque de resto... rs. E também teve uma figura, loura e bem apessoada e completamente desconhecida, do sexo masculino, que simplesmente entrou na nossa rodinha e começou a dançar com a gente. A parte engraçada disso é que ele nao nos cumprimentou, nao perguntou se nos conhecia de algum lugar, nao largou o copo vazio de algum drink, nada. Só dançou, sem olhar pra nossa cara... Achei bacana.
Bom, no fim, nao bebi nenhuma cerveja no havanaclub, de tão incomodada que eu já estava, e fomos embora lá pelas tres. cheguei em casa quase as 4.00, porque tivemos que esperar meia hora o trem, mas de boa. A menina da dinamarca, a aniversariante, falou que nos clubs da dinamarca todo mundo é estranho assim mesmo e são todos carrinhos tromba-tromba tb. A menina da alemanha que estava com a gente contou algumas histórias tristes acontecidas em clubs, mas depois eu conto.

É isso. esse post nao foi tão engraçado, porquenao to tão engraçada, mas tem coisas interessantes sobre a loucura que é não viver numa cidade grande, com mil opções de bares, de boates, de shows... Ai ai... Beleza, eu sei que a gte só vai em tres bares e em tres casas de show e boates em belo horizonte. Mas a gte escolheu ir só nesses lugares, e o povo esquisito vai nos outros e a gte fica livre deles. Aqui, pelo que tenho visto, nao há escolha.

Beijos e amor sempre.

P.s.: Gente, ainda que eu nao tenha fotos, a carol e algumas outras pessoas tiraram fotos e já postaram em alguns lugares.

http://carolinexavier.multiply.com/photos/album/59/Frankfurt_unter_Reform
A viagem que fizemos pra frankfurt.

Juro que em breve arranjo um jeito de postar as minhas próprias fotos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outra vez outro blog

Bom, agora tenho internet em casa e finalmente vou fazer o prometido: escrever um blog. Agora são 01 da manhã aqui nas zoropa, mas eu nao tenho sono. então, resolvi usar meu tempo com alguma coisa que faça algum sentido, porque o livro que tenho em alemão é sobre blablablablabla, e realmente nao interessa a ninguém- por isso, é claro, eu ganhei e nao comprei. rs.

Eu já tive um milhão de coisas pra contar, daí eu esqueço, daí eu lembro, daí eu esqueço de novo. Ainda nao tenho certeza se nesse exato momento estou esquecendo ou estou lembrando. vou aqui fazendo um brainstorm.

A Alemanha, galera, é realmente incrível, e olha que eu só conheço umas 4 cidades. Aqui as pessoas são hipergentis, por mais que se diga o contrário. Na rua, por exemplo, quando a gte tá perdido - o que me acontece regularmente -, nossa, eles são tão legais que até cansa. Você quer saber uma informaçãozinha só, e eles estão sempre explicando tudo, tintin por tintin. É claro que tem aqueles que também nao têm taaaanta paciencia assim com estrangeiros. se voce pede uma informação e nao entende a resposta, nao necessariamente porque vc nao entende a lingua, eles logo acham que você realmente nao fala alemão e lançam aquele inglês germânico de toda hora. O problema disso é: na maioria das vezes, é mais fácil pra mim entender o alemão. Mas o contrário também acontece: quando eles acham que vc fala bem, já que nao cometeu nenhum erro ao perguntar onde é o banheiro, eles começam a falar como se você fosse nativo. Ou seja, muito rápido. Aí também não é das melhores experiencias. Mas aqui aprendi um novo valor: antes rápido que em inglês.

Isso, claro, nao se aplica ao portugues de portugal. Lá, antes inglês do que qualquer português. No avião, por exemplo, da nossa maravilhosa Tap, eu esperava sempre eles repetirem as informações em inglês, porque em portugues realmente nao funcionava. Impressionante... Sobre o avião, informação muito importante é o que a aeronave da Tap é maravilhosa. Fui jogando video game durante as doze horas- nao, durante quatro horas eu vi filme. E o melhor: tem sudoku e algo tipo cobrinha. quanto divertimento!!!

Bom, passei duas noites e um dia em frankfurt, o que também foi bem interessante. Passamos um dia inteiro andando pela cidade pra descobrir que todos os museus estavam em obras. Tinha uma exposição egipcia, mas era muito cara pro meu dinheiro. rs. e tinha uma exposição sobre judeus. Inclusive, dado muito interessante dos museus da alemanha: se vc nao entende alemão, vc nao tem nada o que fazer nesses museus. É impressionante. Eles imprimem um milhão de posteres com um milhão e meio de informações sobre tudo, e vc lê. Basicamente é isso. É preciso praticamente 3 horas pra ver toda uma exposição de tamanho médio direito, e no fim ninguém aguenta mais ler. coisa estranha... Se é pra ler, eu podia ler na minha casa. Mas, ok, nao posso reclamar, isso aqui é o primeiro mundo.

Siiiiiiim, no primeiro mundo os trens atrasam. Inclusive todos os que eu peguei atrasaram. Nao os trens na rua, os chamados S-Bahn, mas os trens de uma cidade pra outra. Curuz credo!!! Vinte minutos de atraso é fichinha. De frankfurt pra jena precisamos trocar de trem. Descemos e tamo lá esperando o próximo. Ouvimos, mal e porcamente, que o trem ia atrasar. Ok, continuamos esperando. Depois de, sei lá, vinte minutos de atraso, rola outra mensagem sobre o nosso trem. Claaaaro, nós nao entendemos. O moço tava avisando que o nosso trem nunca ia chegar e que tínhamos que pegar outro. Essa foi por beeeem pouco. íamos ficar perdidos em weimar por dias, talvez por anos. e weimar fica apenas a 20 minutos de jena.

Mas os S-Bahn... Ah... esses, sim, são completamente maravilhosos. Logo em frente a minha casa tem um ponto. e é incrível como funciona. Se tá marcado que o trem vai passar na minha porta as 17.37, ele passa na minha porta 17.37. Nao, nao 38, muito menos 39. Isso é completamente maravilhoso. Nao preciso ficar horas no ponto esperando. e pra todo lugar da cidade, eu gasto 15 minutos. Como pode tanta maravilha? Nao quero nunca maaaaaaaaaaais a Antonio Carlos.

Já conheci mais ou menos um milhão de pessoas, a maioria estrangeiros. Conheci duas pessoas que são realmente de Jena, apenas. rs. Eles são tipo gente do Acre nos encontros dos estudantes de letras: ninguem acredita quando vê que existem. É realmente muito muito muito interessante conhecer tanta gente de tanto lugar. Eu aprendi a ser simpática, o que também nao é muito dificil. Aqui eu nao sou muito inteligente, porque nao consigo dizer o que eu penso, barreiras linguisticas, mas eu sou tããão simpática. Claro, nao tão simpatica quando o pessoal da china. Eles normalmente só sorriem e balançam a cabeça positivamente. Nao tem jeito de competir. eu pergunto: " voce vai estudar o que na alemanha". e eles apenas sorriem e balançam a cabeça positivamente. AAAhhh, esses orientais. Não dá pra competir.

As pessoas aqui, por outro lado, são meio caretas. Muitos são da igreja ortodoxa, outros são simplesmente católicos, mas é sempre dificil lidar com isso. Tem gente que vem de países onde há quatro milhoes de habitantes. isso tem na grande bh. É muito dificil lidar com isso as vezes. é preciso entender que tudo são dados culturais, mas nao é muito fácil ouvir que um gay nao sobrevive muito tempo entre os homens na Georgia. E o que significa nao sobrevive? bom, ele realmente pode morrer. Outras coisas piores se ouvem por aqui. O lugar da mulher, por exemplo, em alguns países é incrivelmente assustador. Perguntei pras meninas da china o que elas acham de nao poder ter facebook ou ver o youtube, e elas disseram que é ruim, mas que tudo bem. Eu fiquei pensando: será que elas vieram pra alemanha e acham que estão sendo vigiadas? nao é possível que elas realmente acham que está tudo bem... depois, eu pus minha cabeça no lugar. Dados culturais, dados culturais, dados culturais. Eu sempre soube que o meu grande preconceito é contra pessoas que têm preconceito e acham que é de boa. Eu sei, pessoal, obviamente eu tenho preconceitos contra outras coisas. Mas o fato de eu nao me sentir bem com isso e tentar mudar já é alguma coisa. Putz, mas as pessoas nem percebem que são preconceituosas... elas simplesmente pensam que estão certas. ai.

Mas eu fiz esse blog pra contar coisas boas... por que eu vejo as coisas sempre por uma ótica tão pessimista e ativista? hahahaha. Bom, jena é linda. nossa, que cidade gostosa e que qualidade de vida. daria pra morar aqui a vida inteira, se a gte enchesse isso aqui de musica brasileira. hahahaha. Que saudade eu estou de ouvir boa musica brasileira muito bem acompanhada, tomando alguma coisa gostosa, comendo alguma coisa gostosa. Neeeee, mas nao é sobre isso que eu queria falar. eu queria falar sobre a cidade:

entao, aqui temos a segunda melhor sorveteria e cafeteria da turingia. o que isso significa? nao faço a menor ideia, já que nao tomo café nem gosto muito de sorvete a nao ser que tenha banana - e a banana aqui é realmente intragável. Quem nao me comprou muitos cachos de banana no brasil pode ficar completamente culpado, já que ficarei ciiinco longos meses sem comer banana. Para além disso, temos aqui um bar chamado porão de rosas, ou algo assim, que é a obra, um pouco maior e mais arejada. A musica é basicamente a mesma, pelo menos. a diferença é que aqui meio litro de cerveja custa dois euros e está sempre quente e que as pessoas têm coragem de dançar mesmo que nao saibam. a pergunta óbvia: entao vc está dançando, né, lud? Sim, estou. Aqui me sinto muito à vontade pra dançar. Eu nunca dancei tão bem em toda a minha vida.

Estou tambem tentando ensinar pras pessoas que meu apelido é lud (algo como luigi, né? rs), porque elas só me chamam de lud com o d realmente completamente mudo. Já tive grandes progressos, e é realmente doce quando as minhas amigas me chamam de luigi. hahahha. Elas também já sabem falar palavras muito importantes, como beijo, cuzão, foda, essa noite foi foda, as pessoas são fodas, tudo bem. mas vou transcrever: beijuuu, cussao, fôda, essa noitssi foi fôda, aisss possoias sá fôdas. Elas nao conseguem nasalizar nada. E pra falar "siiimmm", então? impossível, minha gente.

eu, também, claro, já sei falar alguma coisa em algumas linguas. a palavra mais dificil que aprend'i até agora foi vbrdgvni. sim, isso é uma palavra, eu nao to zuando. O que isso significa? algo como "eu rasgo". em qual lingua? na lingua da Georgia. uma lingua que parece lingua de indio, só que um pouco mais engraçada. dá vontade de aprender só porque é praticamente impossível. hahahaha.

Nossa, eu poderia ficar aqui escrevendo durante séculos,mas eu tenho certeza que ninguem vai ter paciencia de ler nem esse post até o final. Mas, cuidado, se vc me perguntar algo que eu já escrevi no blog, saberei que vc nao está prestando atenção nas minhas sábias palavras.

Amor e saudades sempre.