segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Feijão e Neve

12.00: Finalmente dormi até tarde. Hmmmmmmmmmmmmmm. Que delicia de soninho. Quarta-feira, e eu posso dormir até 12.00. Hoje o dia promete. Feijoada com os amigos. Feijããããããão! Foi o que eu ingenuamente pensei numa quarta-feira qualquer.

15.00: Em direção à casa da amiga onde a feijoada seria servida. Antes de chegarmos lá, todavia, preciso contar uma coisa. Temos uma amiga de muletas. Ela estava rezando, se apoiou muito nos joelhos na hora do Pai Nosso e fudeu um deles. A gente se reveza, então, pra cuidar da nossa beata. Esse era o meu dia, mas eu estava de tão bom humor, uma vez que dormi até tarde, que não me importei. Isso até ver que do carro até a porta da casa da moça não tinha um passeio, tinha uma pista de patinação. Eu olhei pra beata, olhei pra pista de patinação... (depois que cai a neve, se chove, é só botar os patins e se divertir) A primeira reação que eu tive foi sair correndo na frente com a feijoada. Eu tinha que deixar ela a salvo antes de qualquer coisa. Dito e feito. Deixei o feijão em casa e fui atrás das muletas. Não vou me alongar muito nisso, pois na vida real já se alongou o suficiente: meia hora pra cem metros. Dá pra acreditar? O resultado foi isso aí:





18.00: Tudo comido. Passando mal pós-feijão. Conversa vai, conversa vem. Um rapaz sem o que fazer resolve brincar com o chifre de diabo de uma fantasia de criança. Criança cuja mãe era a dona da casa em que estávamos. O que esse singelo mineiro faz com a delicadeza de suas mãos? QUEBROU O CHIFRE. Olhou pro lado, olhou pro outro... O que fazer? Tentou encaixar de um jeito, tentou encaixar de outro. Ui, de outro deu certo. O resultado foi o seguinte: ele falou que desse jeito era mesmo mais contemporâneo, mais elegante. Diaba da moda.

A dona da casa, claro, não viu quem foi. E eu acabei sendo culpada do fato porque eu usei o chifrinho pra performances. De qualquer forma, aqui está a prova (com atenção dá pra ver que ele está encaixando o chifre na posição equivocada):


18.30: Bora pra outra casa fazer festa? Booooora... Chegamos lá, bebemos o vinho quente típico da Alemanha (Glühwein), cerveja. E tinha um danado dum cachorrinho feio que nem o demônio. Eu e meu amigo do chifre ficamos a noite inteirinha fazendo piadas com o pobre coitado. Mas ele saberia como se vingar.


01h00. Tínhamos pedido um táxi há mais ou menos duas horas. Ele não chegava. Disseram que era culpa de um tal de Schneechaos (caos da neve), e eu achava mesmo que era culpa da preguiça dos taxistas de sair de casa em dia tão nevante. Afinal, os ônibus ainda estavam rodando e havia muitos carros na rua. Comparando como sempre: se fosse no Brasil, os taxistas tinham era contratado o homem da neve pra não deixar parar de nevar. Ninguem ia querer pegar trem, e eles iam faturar um babado. Ok. Na Alemanha, é diferente. "Dormimos aqui ou vamos embora?" Foi o que a moça manca e operada me perguntou quando percebemos que seria tarde demais pra voltar pra casa voando." Hm... Ok, ok. Vamos pra casa, não pode ser tão difícil assim."

Saímos de casa felizes e sorridentes. As primeiras montanhas de neve não foram mais difíceis que divertidas. Ela com suas duas muletas sorridentes, eu preocupada com o fato de o cachorro ter mijado no meu pé. Preocupada, não. Puta! Saindo de onde estávamos pra ir pra casa, um cachorro de tamanho bem menor do que uma ratazana do Mercado Central de Belo Horizonte (lembram do cachorro feio como o diabo?) mija no meu pé. Como? Exatamente no intervalo entre tirar o sapato de casa e colocar o sapato de rua. Quando eu percebi, já estava toda mijada. Maravilha. Ele se vingou. E eu tive que ir à neve com o pé molhado de xixi. Por que ele não mijou um pouco antes? Porque ele não queria que desse tempo de secar. Será que o pé vai congelar? Era o que eu estava pra descobrir. E o pior é não poder xingar a dona do cachorro, que afinal não tinha culpa alguma e me recebeu com carinho em sua residência. É a vida.

Voltando a neve, ao ponto de ônibus, ao frio... Conseguimos finalmente alcançar o ponto de ônibus pretendido, ainda que a neve não estivesse simples de ser ultrapassada, ainda que as muletas próprias para a neve não fossem próprias pra taaaanta neve. Eu já havia olhado o horário do trem. "Tá tudo certo! Em poucos minutos, ele deve passar..."

01h20: trem? Que trem?

01h40: que merda de trem é esse que não passa?

Nesse meio tempo, chegaram ao ponto dois moços. Um muito conversado, queria saber de onde vinham as moças simpáticas e bronzeadas – pros padrões alemães, claro. O outro, caladão, não falou nada, mesmo. Só ficou olhando com uma cara de bobão. Conversamos um pouco com aquele que queria conversar: ele perguntou se já tínhamos visto neve, perguntou o que aconteceu com o pobre joelho da manca. Eu não conversei muito, só o suficiente. Ela, mais que o suficiente. Inclusive em português. Ainda que more há alguns anos na Alemanha, ela ainda tem aquele desejo de falar português como segredo. A gente pode falar português pelas ruas e dizer coisas realmente baixas. Palavrões, mal dos outros, pornografias... tudo que vier à cabeça e parecer engraçado na hora, pros outros brasileiros também rirem. Quantas vezes não ouvi alguém xingando alguém com um sorriso nos lábios: basta sorrir bem gostoso e dizer entre os dentes “sua puta, filha da mãe, desgraçada, quenga”. Funciona. Foi o que ela fez. Rimos.

02:00: Lá vem um ônibus do outro lado da rua. Não passava mais trem por causa do tanto de neve nos trilhos. tínhamos que ir de ônibus. E saímos correndo, atravessando pelas linhas do trem. Quer dizer, tentamos sair correndo. Ela estava mais era coxeando mesmo. Mas tudo bem. Alcançamos o ponto, mas adivinhem? Onibus errado. Tudo certo. Pelo menos agora sabemos que ônibus continuam passando e que teremos alguma chance de chegar a casa. Nesse momento, o caladão (lembram dele?) fala algo sobre o frio na Alemanha, ou faz uma comparação entre o tempo na Alemanha e no Brasil. Qual o problema? Em PORTUGUÊS!!!!!!!!

"Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Ele fala português ou ele decorou essa frase?" Não sabíamos e não queríamos descobrir. Não demos papo pra ele em português. Não, não, não. Mas, obviamente, eu ri sozinha mais um tempo e ela ficou sem reação, enquanto ele continuava a olhar com aquela cara indecifrável de bobão – seria cara de triunfo? Melhor não pensar. Aqui, entretanto, eu gostaria de lembrar que eu avisei a ela que alguém poderia estar nos entendendo. Ela deu de ombros. Sem mais.

--:-- Agora já era tão tarde que eu não queria mais olhar o relógio. O que faremos? Ok, ok. Nos rendemos. Vamos voltar à casa da amiga do cachorro mijão. Eu sei, ele vai querer dormir com a gente. Afinal, não é lá que ele dorme? Onde a cama estava arrumada? Rs. Eu sei, antes agüentar um cão do inferno quente do que um frio do cão – huhuhu. Como eu to engraçadinha. Isso porque vocês não sabem o que passei... "Liga pra ela, liga pra ela..." "Ok, tudo certo. Ainda temos camas, vamos voltar."

Mais ou menos dez minutos depois, já a meio caminho do lugar onde ganharíamos camas felizes, o que aparece como um ponto de esperança? Um trem, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um treeeem... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Alcançamos o ponto. E?! Era o trem errado... era o trem errado... era o trem errado... E, segundo constam nos autos, o joelho dela já estava latejando. E o meu pé? Que pé? Eu não sentia mais meu pé. No máximo, o cheiro que ele exalava.

"Ok, agora tá decidido. Aconteça o que acontecer, vamos dormir com o cachorro. Não dá pra ficar mudando de idéia assim. Certo?" Certo. Novamente há meio caminho, já tínhamos caminhado o suficiente pra uma eternidade. O que me aparece como um ponto de esperança? Um ônibus, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um onibuuuuuuuus... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Antes de alcançar o ponto, entretanto, uma tragédia. Ela escorregou. Eu estava atrás e consegui segurar – há tempo de ela não cair debaixo do ônibus que já passava do nosso lado. Ela entrou no ônibus, agora com hemorragia interna no joelho operado (isso só fomos descobrir quando ela foi ao medico no dia seguinte), e eu ria. E ela chorava. E eu fiquei com dó e ela riu. No fim, ela me perguntou com um olhar de quem sentia dor e não tava mais entendendo as coisas direito:

“Acontecesse o que acontecesse, nós não íamos dormir com o cachorro?” Ai ai.

Descemos do ônibus, mas, claro, no ponto errado. Um ponto antes! Essa foi minha culpa. Ela já tava fudida mesmo, e eu não tinha pé. Então, ela tirou uma foto minha pra eu postar no blog nossas aventuras pelo dia do Schneechaos.


Eu amo Jena. Eu amo quarta-feira!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ah, Berlim.




Chegar em Berlim teria sido uma emoção, não fosse o fato de que eu babei de dormir a viagem inteira e, quando chegamos, eu so conseguia pensar: merda, eu dormiria mais umas cinco horas. Fato. Eu estava cansada. Devido à danada daquela doença de que já lhes contei. Tomei um remédio que importei do Brasil, mas esqueci que ele dava um soninho...


O Gustavo, por outro lado, não havia tomado remédio algum. Mas, coitado, tão meu amigo. Tao querido... Foi logo colocando em pratica o amor que tem por mim, se condoeu de me ver naquela situação, e me acompanhou. Delicia.







Depois, bom, que eu vi que não tinha mais jeito mesmo de dormir, peguei minha mala, entrei pro Hostel e resolvi relaxar. Já que já to em Berlim mesmo, vamo ver o que tem nessa cidade. Saimos pra passear.

Eu sabia que aquela era a cidade dos meus sonhos mais distantes de realização, e eu queria ver tudo, tudo. Alguem sugeriu andarmos por ai, comermos alguma coisa. Dito e feito. Qual a impressão que eu tive da cidade dos meus sonhos? Não sei. Eu fiquei tão apavorada com o tamanho do lugar que meu alarme brasileiro ligou: Assalto, morte, atropelamento. Fato que me acostumei com a vida tranquiiiila em Jena. Nada com que se preocupar, ninguém pra te matar. E em Berlim, plim. O meu botão de “sempre alerta” foi ligado.

Mas foi ligado com terror. Era uma excursão. Trinta ou quarenta pessoas. Que saíram pra passear, umas 15? Metade daqui desses lados do mundo e a outra metade de chineses. Todas meninas. Andavam como se estivessem em Jena. Ai, quanta tranqüilidade. Conversavam, riam, nem olhavam pros lados. Na hora, eu e Gustavo nos afastamos um pouco do grupo, a uns passos de distancia. Queriamos que elas andassem a uma distancia suficiente pra que víssemos toda a área periférica a elas. Ai, ai. Dá pra entender porque só os estrangeiros não sobrevivem no rio.

Nesse dia, conheci as moças da bota branca.



A gente andando calmamente na rua, e um monte de moças da bota branca nas calçadas. Em primeiro lugar, eu pensei : hm... Cambistas? Isso porque todas elas têm também pochetes, e tinha um moço conversando com uma e que, logo depois, ofereceu entrada grátis pras meninas singelas da minha excursão. Bom. Continuei andando, andando. E vi que as moças da bota branca não diminuíam. Não é possível que tem tanto cambista de bota branca assim na Alemanha. E, de repente, plim! Putas. Refleti, refleti, dava uma olhadinha aqui, outra aculá. Fato é: um taaaaanto de mulher gata. Mesmo! De verdade. Eu não sou nenhuma especialista no assunto (afinal o que fazer com uma puta? Hahaha), mas eu tenho certeza que aqui o negócio é melhor que no Brasil. Eu estava lá, embasbacada com tamanha diversidade e, princiapalmente, com o fato de ser absolutamente normal andarmos na mesma rua em que elas estavam, e... de repente... Uma dessas moças começa a andar exatamente do meu lado e a falar com alguém. Comigo? Comigo? De repente, ela para, eu olho para trás para acompanhar os movimentos da moça e o que acontece? Bato num poste de meio tamanho que estava bem na minha frente. Na hora, um ou dois espertinhos que estavam do meu lado entenderam a situação. Hahahaha. Eu fingi que não era comigo, me endireitei e continuei andando, como se nada estivesse acontecendo. Ah, Berlim!

Dormimos, comemos, fizemos aquelas coisas normais que todo mundo faz e... Bueno, a gte também visitou os lugares lindos que a gente sempre sonhou. O Brandenburger Tor existe mesmo, de verdade, verdadeira. E tem mais um monte de coisas bonitas na cidade. O museu da DDR, por exemplo, é a coisa mais divertida do mundo. Lá a gente pode mexer em todas as coisas que estão expostas. O sonho de toda criança que é obrigada pela mãe a ir ao museu.

Fomos também a um teatro de gosto duvidoso, humor alemão de altíssima qualidade. Hahahaha. E... Não foi nem de longe a minha viagem dos sonhos a Berlim, porque o esquema não era muito o meu. Mas foi a viagem a Berlim, a primeira. E já valeu. Se tudo der certo, volto lá em janeiro. Agora com mais tranqüilidade, pra ser mais feliz.

P.s.: Para ver a maioria dos museus em Berlim, é preciso ter um dia inteiro livre. Não acredite que você vai entrar, ver rapidinho e vai dar tempo de fazer outras coisas. Eu passei de quinta a domingo em Berlim, e tudo que eu fiz foi ver três ou quatro museus (o da DDR, até que é pequeno. Conseguimos em umas três horas, eu acho). A noite, deu tempo de visitar o portão de brandenburgo, um ou outro monumento. Hahahaha. É uma loucura.

Se eu saí a noite? Nããão. Essa vai ser, se deus quiser, uma história pro meu próximo post de Berlim.

E as fotos? Dentro da máquina, eu ainda não consegui tirá-las de lá... ai ai...