quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Natal? Sim... Natal!

Eu sei, nao é natal para ninguem. todo mundo ja trocou presentes, ja se esqueceu do que ganhou, ja se esqueceu do que rezou, e só nao se esqueceu de toda a religiosidade no ar porque ainda tem o carnaval vindouro, com aquela tal de quarta-feira de cinzas. eu sei, nunca fui muito das mais cristas religiosas - desculpe. mas também nao é por pura ignorancia que nao entendo como o carnaval pode ter algo de religioso. é por pura racionalidade mesmo, e me parece um paradoxo que aquela libertinagem (agora pareco uma virgem pura do seculo retrasado, deus!) tenha a ver com as santissimas ideias cristas. Como dizem os queridos alemaes, egal! (dá pra ver que significa tanto faz, igual, e daí?)!

De qualquer maneira, estou muito é da atrasada com esses posts aqui. Escrever nao é tarefa dos felizes, ja diziam alguns dos meus melhores amigos - que infelizmente nao me conhecem. E pra mim sempre funcionou com uma verdade incrivel. É claro: quando a vida mostra a possibilidade de ser vivida tao intensamente, nao dá tanto tempo de parar em frente ao pc para escrever sobre aquilo que eu posso viver. Isso, sim, é uma falta de respeito com os meus leitores. Mas, na Alemanha, sou uma menina mimada. Totalmente mimada. Só faco o que quero, na hora que quero, como quero. Aqui falo só praticamente a verdade. Acreditem se quiserem. Normalmente, nada de mentirinhas inofensivas para fugir de compromissos ou para deixar alguém feliz. Quando eu teria cinco meses de férias assim, hein? Tempo de desligar das obrigacoes, virar aluninho de faculdade que parece escolhinha, sem maiores trabalhos (eu ate estudei um tanto consideravel, o que me fez feliz, por ser por escolha)... Toda essa liberdade eu nao troquei por obrigacoes, e eu nao queria que escrever fosse uma delas. Triste pra mim, que perdi leitores que poderiam ser fieis. Triste para algumas pessoas, que podem ter julgado que eu nao me importava, quando eu nunca me importei tanto. Mas eu sou de decisoes, e decisoes sao decisoes (siiim, Einstein). E eu resolvi fazer tudo que eu quis, e tudo que eu estava sentindo, como uma folga de mim mesma.

E o que isso tem a ver com o natal? Uhhh... Bom, nada! o negócio é que estou atrasada com o post do natal, o que é uma vergonha. e é ainda mais ridiculo que eu escreva sobre o natal dois meses depois, ja que ninguem se lembra mais dele. mas eu me lembro:

eu ganhei um par de meias de inverno, vááários chocolates, dinheiro, dois isqueiros, um convite para passar uns dias em dresden, comida muito gostosa, um sabonete liquido para tomar banho, uma blusa, um kit bobeira e com certeza mais algumas pequenezas. e onde eu estava? nao, eu nao estava em casa. eu estava sendo recebida por uma familia de alemaes, cujo o filho é casado com minha melhor amiga, werizinha. Fato é: eu nao esperava metade do tratamento que recebi. Logicamente eu sabia que eu ia ser bem tratada e que a vida seria boa, mas eu nunca imaginei que eles pudessem ser taaaao legais. Quer dizer, a gente sempre pensa: puts, eles sao alemaes, frios... Que nada! Sao alemaes, outra cultura, mas sao gente. Hahaha! Parece engracado dizer isso assim, mas é real. Temos essa mania estranha de olhar para as pessoas como puro produto da cultura, como aquilo que sabemos da cultura. Tem alemao quente, tem brasileiro frio, tem alemao preto, tem brasileiro louro, tem 45 graus na alemanha, tem neve no brasil. E, mesmo que quem eu conheca aqui seja la um pouco frio, seja louro, e viva na neve, essa pessoa é diferente de todas as outras que eu conheci também por aqui.

Eu sei, isso parece programa de autoajuda, livro de autojuda, sei la. Nao é e é! É apenas uma conclusao simples (eeee, Einstein!) tao dificil de tirar. Eu me irrito porque as pessoas aqui, desconhecidas, só querem saber como é praia e futebol, mas eu também nao pensei que elas sao tao individuais quando perguntei pra russa se na siberia tinha sol. E ela disse que tinha, uns bons meses por ano. (hahahaha!) E aí, eu também nao pensei que ela era individual quando ela comecou a me contar sobre como as coisas funcionam por lá. Mas, aí, eu conheci um tanto de russas, e vi que elas podem ser diferentes, e tao diferentes que as vezes eu gosto delas de chorar ao pensar que nao vou mais ve-las, e as vezes dá um alivio nao ter que ver outro tanto delas. E eu, eu me sinto idiota toda as vezes que eu nao me seguro ao olhar pra alguem e pensar: "hm... russa!" "hm... ucraniana!"

E o natal foi assim, familia reunida, recebendo visita como se fosse de casa. Sentei no sofá com o pé em cima, comi chocolate sem pedir, lanchei até nao aguentar mais, sem vergonha, tomei chá até cansar. E descobri que as vezes natal é pascoa na alemanha, de tanto chocolate que se ve. e descobri que as pessoas ainda discutem se a alemanha oriental era melhor que a ocidental, e brigam por isso com certa ironia e bom humor. e descobri que eles discutem politica(s) com tanta rapidez que meus ouvidos nao podem entender tudo. e que eles acham que meu alemao é decente. e que, se eu chamar a vo do marc de vo, ela acha divertido e ri. e que ela é tao fofa, e conta historias de como era antes, quando tudo era diferente por aqui.

e, claro, descobri que as arvores de natal aqui sao realmente arvores, e nao plastico, ainda que elas fiquem dentro de casa, tenham o tamanho exato de uma arvore de natal, a aparencia exata de uma arvore de natal e estejam totalmente enfeitadas.

e que a neve pode cair tanto no natal, que pode ser dificil chegar a paris no dia seguinte. e descobri que aqui pode ser tudo meio diferente, mas é tudo meio igual, a nao ser pelo fato de que a visita ganha mais presentes do que a familia.

Foi bonito.

p.s.: desculpa a falta de acentuacao. esse é um computador alemao esquisito. e essa semana ainda pretendo contar de amsterda e de suas lindas (ou nao) putas na vitrine.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Paris

Eu sempre soube que era alguém sem sonhos, sem memória e sem imaginação. Nunca consegui imaginar como seria amanhã, qual profissão teria, quais viagens eu faria, se eu encontraria um grande amor. Talvez eu nunca tenha conseguido sonhar exatamente porque não tenho imaginação. Quase não tenho desejos também. Claro, sei quando estou feliz, quase sempre. Isso é um acaso, porque quase não sei o que me deixa feliz.

Pode parecer que sou uma pessoa mais triste por isso. Não sou. Me esqueço quase sempre com facilidade das tristezas, não me frustro porque não espero muito de nada nem de ninguém. Sou, entretanto, um estorvo para quem quer que eu me decida. Mas, depois de 24 anos, tenho certa certeza do que não gosto, o que, como dizem os consoladores, já é um começo.

Minha quarta deficiência – além da falta de sonhos, de memória e de imaginação – é a visual. Não vejo nada, ou praticamente nada. E aquilo que vejo me foge em pouquíssimos segundos. Fui ao médico, e não tenho tantos graus de miopia assim (só quatro). A conclusão óbvia é a de que sou vazia e quase anestesiada. O que faz todo sentido, não fosse outra idiossincrasia: não conheço ninguém capaz de se apaixonar tanto e tão instantaneamente, paixões de trinta segundos, de um minuto, de semanas, e até paixões de anos – ainda que a memória me falhe, há certas coisas e pessoas que simplesmente se mantêm. E, como todos sabem, paixões pelo bonito e pelo feio, pelo lindo e pelo horroroso.

Paris não foi paixão de minuto. Não será eterna, já sei, porque já começo a esquecer exatamente o que fiz lá, o que vi... Mas talvez alguma fagulha da maravilha que lá vivi permaneça eternamente. Foi até agora o que mais me impressionou nessa Europa. A Torre Eiffel é muito melhor do que se pode imaginar, e o meu coração desavisado, que se esqueceu de imaginar e se preparar, foi pego num susto só. Principalmente quando anoiteceu e a torre se acendeu. O Louvre é como nos melhores filmes, e a Mona Lisa é mesmo pequena, mas ainda assim uma graça de mistério. A múmia egípcia, por outro lado, era mais feia do que imaginei quando li os livros Ramsés e a Pedra da Luz, mas me fez lembrar mamãe, que, ao contrário, é linda. (Ufa, evitei piadinhas, aqui, hein?) Achei lá a estátua do Ramsés, inclusive, e procurei desesperadamente o Radamés, mas sem sucesso. Pensei em tirar uma foto de uma estátua sem cabeça e gigante e dizer que tinha o nome do meu pequeno gigante irmão, mas achei que ele poderia descobrir o truque. Rs. Vi Versailles, e foi fácil entender como podia haver tanta gente nas cortes do reis. É tão grande que não tem jeito de explicar. Por azar, os jardins estavam fechados devido à neve. Mas não achem que a culpa é da minha amada neve. A culpa é dos franceses, que são frescos.

(obs.: os estudantes de intercambio na Europa que forem visitar a França, não esqueçam o passaporte no hostel. Ele pode garantir entradas grátis a partir do carimbo de visto, como em Versailles).

E aquela história de que os franceses são descorteses? Besteira. Não sei se já estou habituada demais à delicadeza elefantal alemã, mas não tenho nadinha a reclamar.

Por fim, tive a sensação de que, mesmo sem sonhos, tendo vindo à Europa por mais um golpe do destino, mesmo sem memória e sem esperanças, há sempre algo que posso experienciar sem sequer entender. E há tudo que não é palpável, que não fica na memória, mas que eu pude respirar. Eu não nasci pra ver, porque não é dessa matéria que sou feita. Sou só tomada por arroubos, que por vezes não posso controlar. E Paris foi sim um arroubo, foi falta de fôlego, é, mais uma vez, a beleza que, de tão bela, me entristece.

Essa sou euzinha em cima da Torre Eiffel. Não dá pra ver que é lá, mas dá pra acreditar, pelo meu sorriso bobo.

Queria que alguns de vocês tivessem comigo, pra me ajudar a ver.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ela e o gosto de biotônico Fontoura

Ela foi embora sem olhar pra trás. Há tempos eu tentava aprender essa habilidade, e nunca consegui. Ela simplesmente se vai, não pára para pensar, não diminui o passo, não se detém fingindo que está arrumando o cabelo, nada. Nas pequenas despedidas, isso já sempre me incomodou. De manhã, ela saia pro trabalho, com o seu sempre ar de importância. E não se virava para mim, não dava o “tchau” tardio e cretino. Uma vez decidi a observar por mais tempo. Sempre acreditei que, em algum momento, em que eu não estivesse olhando, ela me jogaria a sua saudade indigna. Não. Não fez. Ela é totalmente capaz de ir embora sem fraquejar. Quantas vezes, então, ela entrou em um táxi e passou ao meu lado? Ela se lembrou de que eu estava na rua à espera de qualquer sinal de paixão infantil? Talvez. Mas mesmo assim não recebi nada em troca da minha esperança por migalhas.

Houve alguns momentos em que tive que ir embora. Poucos, mas por vezes bastante intensos, com gosto de ferro do biotônico Fontoura. Eu sabia que ela não ia me olhar descer as escadas, por exemplo. Quando eu me virava para despejar sobre ela toda a minha fraqueza, a porta já estava se fechando, e ela talvez já estivesse à procura do controle remoto. E eu só queria o ultimo olhar. Parei, então, de pedir por ele nesse silencio sufocante da derrota diária. Eu me decidi a alcançar os brios a que ela já estava tão acostumada. O que, de qualquer forma, era impossível. Eu já tinha descido a indignidade tantas vezes ao sempre me virar numa expectativa que caiu repetidamente por terra, que nada diminuiria meu crime. De qualquer maneira, ela nunca saberia que eu fazia tanto esforço para segurar os músculos do meu pescoço. Talvez ela nunca sequer soubesse que eu me virei, que eu deixei de me virar ou que essa pequeneza era tão importante pra mim. Mas eu queria que, se algum dia ocorresse a ela pensar nisso, que eu fosse sempre um símbolo de quem nunca se curvou desgraçadamente às ânsias do amor, como ela era. Ou de quem talvez nunca nem mesmo tivesse tido ânsias tão baixas, ela.

Mas na partida derradeira, nessa sim, nessa eu merecia um olhar que fosse, de consolo, de tristeza, de desgaste, de alegria, de olhar. Eu queria só um olhar de olhar. E acompanhei quando ela entrou, quando se sentou, quando tirou seu casaco. Esperei longos e cansativos cinco minutos. Ela não se lembrou de que eu poderia estar ali ou não quis perder a dignidade solene do momento em que eu, em pé na estação, olhava para dentro do trem como se procurasse algo. Eu não procurava nada, queria que me encontrassem. Por fim, faltavam ainda três minutos para a partida. Me aprumei e desci as escadas. Afinal, ela havia demonstrado mais uma vez que a postura na despedida é maior que a própria despedida. E eu, inconsolável, não queria que ela fraquejasse no ultimo minuto e visse que fraquejei por minutos seguidos. Me detive, de qualquer maneira, no andar de baixo. E ouvi o trem dando a partida. Ouvi com os olhos e meu rosto estava de novo na direção oposta a do meu corpo. Mas ela não saberia.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ela e o Vegetal

A gente se entende tão bem que até dói. Aqueles clichês mesmo a que já se acostumou a literatura. Ela vê, eu penso. Ela estuda, eu aprendo. Ela geme, eu sinto. E eu sei sempre que sempre estou fazendo coisas erradas. Porque eu a entendo tão bem quando ela finge que eu sou só mais alguém que ela encontra na rua todo dia. Porque ela não se lembra nunca do que a gente combinou ontem. Porque ela fala comigo por pena da minha completa incapacidade de acompanhar o raciocínio social mais lógico. Porque ela tem tanta paciência pra me explicar qual a diferença entre os adesivos que ela quer colocar nas paredes, que pra mim já estão bonitas do jeito que estão. Mas ela diz que são sem vida, e por isso sei que estou sempre fazendo coisas erradas. Eu sou sem vida. Só tenho vida mesmo em algum lugar dentro da minha cabeça, mas fico vegetando o resto do tempo.

E a gente se entende tão bem que até dói. Aqueles clichês que as músicas de romance devem descrever, mas que eu nunca ouço. Porque me dói que eu não entenda esses clichês como eu gostaria. E me dói mesmo que ninguém acredite que as coisas me doem. E aí eu sei como se sentem as árvores quando tatuam nelas corações com letras dentro. Dói, até nos vegetais. Ela entende, entretanto, quando me dói. Às vezes ela finge que não entendeu, porque ela sabe que eu não me acostumo com essa mania que ela tem de me ler. E ela quer que eu fique confortável, quase sempre. Quase sempre. Mas eu estou mesmo sempre fazendo coisas erradas até como vegetal. No verão eu não tenho a sombra que ela gostaria. E eu nem gosto tanto assim de verão. E ela tem aquele olhar de dúvida de sempre. Nunca sabe se deve sentar debaixo de mim mesmo assim, porque eu valho a pena por algum motivo que só ela entende. Ela tem paciência, isso sim é o que ela tem. Todos dizem que não. Que ela é agitada, que pensa tão rápido que esquece o que pensou. Mas eu sei que ela tem paciência.

E a gente dói tanto que até se entende. E ela faz greve de mim, vez ou outra. Não quer me atender, não quer me ver. Diz que não fala com coisa verde, que isso é coisa de doido. Mas eu espero. Eu sempre espero. Porque eu gemo, e ela sente.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Feijão e Neve

12.00: Finalmente dormi até tarde. Hmmmmmmmmmmmmmm. Que delicia de soninho. Quarta-feira, e eu posso dormir até 12.00. Hoje o dia promete. Feijoada com os amigos. Feijããããããão! Foi o que eu ingenuamente pensei numa quarta-feira qualquer.

15.00: Em direção à casa da amiga onde a feijoada seria servida. Antes de chegarmos lá, todavia, preciso contar uma coisa. Temos uma amiga de muletas. Ela estava rezando, se apoiou muito nos joelhos na hora do Pai Nosso e fudeu um deles. A gente se reveza, então, pra cuidar da nossa beata. Esse era o meu dia, mas eu estava de tão bom humor, uma vez que dormi até tarde, que não me importei. Isso até ver que do carro até a porta da casa da moça não tinha um passeio, tinha uma pista de patinação. Eu olhei pra beata, olhei pra pista de patinação... (depois que cai a neve, se chove, é só botar os patins e se divertir) A primeira reação que eu tive foi sair correndo na frente com a feijoada. Eu tinha que deixar ela a salvo antes de qualquer coisa. Dito e feito. Deixei o feijão em casa e fui atrás das muletas. Não vou me alongar muito nisso, pois na vida real já se alongou o suficiente: meia hora pra cem metros. Dá pra acreditar? O resultado foi isso aí:





18.00: Tudo comido. Passando mal pós-feijão. Conversa vai, conversa vem. Um rapaz sem o que fazer resolve brincar com o chifre de diabo de uma fantasia de criança. Criança cuja mãe era a dona da casa em que estávamos. O que esse singelo mineiro faz com a delicadeza de suas mãos? QUEBROU O CHIFRE. Olhou pro lado, olhou pro outro... O que fazer? Tentou encaixar de um jeito, tentou encaixar de outro. Ui, de outro deu certo. O resultado foi o seguinte: ele falou que desse jeito era mesmo mais contemporâneo, mais elegante. Diaba da moda.

A dona da casa, claro, não viu quem foi. E eu acabei sendo culpada do fato porque eu usei o chifrinho pra performances. De qualquer forma, aqui está a prova (com atenção dá pra ver que ele está encaixando o chifre na posição equivocada):


18.30: Bora pra outra casa fazer festa? Booooora... Chegamos lá, bebemos o vinho quente típico da Alemanha (Glühwein), cerveja. E tinha um danado dum cachorrinho feio que nem o demônio. Eu e meu amigo do chifre ficamos a noite inteirinha fazendo piadas com o pobre coitado. Mas ele saberia como se vingar.


01h00. Tínhamos pedido um táxi há mais ou menos duas horas. Ele não chegava. Disseram que era culpa de um tal de Schneechaos (caos da neve), e eu achava mesmo que era culpa da preguiça dos taxistas de sair de casa em dia tão nevante. Afinal, os ônibus ainda estavam rodando e havia muitos carros na rua. Comparando como sempre: se fosse no Brasil, os taxistas tinham era contratado o homem da neve pra não deixar parar de nevar. Ninguem ia querer pegar trem, e eles iam faturar um babado. Ok. Na Alemanha, é diferente. "Dormimos aqui ou vamos embora?" Foi o que a moça manca e operada me perguntou quando percebemos que seria tarde demais pra voltar pra casa voando." Hm... Ok, ok. Vamos pra casa, não pode ser tão difícil assim."

Saímos de casa felizes e sorridentes. As primeiras montanhas de neve não foram mais difíceis que divertidas. Ela com suas duas muletas sorridentes, eu preocupada com o fato de o cachorro ter mijado no meu pé. Preocupada, não. Puta! Saindo de onde estávamos pra ir pra casa, um cachorro de tamanho bem menor do que uma ratazana do Mercado Central de Belo Horizonte (lembram do cachorro feio como o diabo?) mija no meu pé. Como? Exatamente no intervalo entre tirar o sapato de casa e colocar o sapato de rua. Quando eu percebi, já estava toda mijada. Maravilha. Ele se vingou. E eu tive que ir à neve com o pé molhado de xixi. Por que ele não mijou um pouco antes? Porque ele não queria que desse tempo de secar. Será que o pé vai congelar? Era o que eu estava pra descobrir. E o pior é não poder xingar a dona do cachorro, que afinal não tinha culpa alguma e me recebeu com carinho em sua residência. É a vida.

Voltando a neve, ao ponto de ônibus, ao frio... Conseguimos finalmente alcançar o ponto de ônibus pretendido, ainda que a neve não estivesse simples de ser ultrapassada, ainda que as muletas próprias para a neve não fossem próprias pra taaaanta neve. Eu já havia olhado o horário do trem. "Tá tudo certo! Em poucos minutos, ele deve passar..."

01h20: trem? Que trem?

01h40: que merda de trem é esse que não passa?

Nesse meio tempo, chegaram ao ponto dois moços. Um muito conversado, queria saber de onde vinham as moças simpáticas e bronzeadas – pros padrões alemães, claro. O outro, caladão, não falou nada, mesmo. Só ficou olhando com uma cara de bobão. Conversamos um pouco com aquele que queria conversar: ele perguntou se já tínhamos visto neve, perguntou o que aconteceu com o pobre joelho da manca. Eu não conversei muito, só o suficiente. Ela, mais que o suficiente. Inclusive em português. Ainda que more há alguns anos na Alemanha, ela ainda tem aquele desejo de falar português como segredo. A gente pode falar português pelas ruas e dizer coisas realmente baixas. Palavrões, mal dos outros, pornografias... tudo que vier à cabeça e parecer engraçado na hora, pros outros brasileiros também rirem. Quantas vezes não ouvi alguém xingando alguém com um sorriso nos lábios: basta sorrir bem gostoso e dizer entre os dentes “sua puta, filha da mãe, desgraçada, quenga”. Funciona. Foi o que ela fez. Rimos.

02:00: Lá vem um ônibus do outro lado da rua. Não passava mais trem por causa do tanto de neve nos trilhos. tínhamos que ir de ônibus. E saímos correndo, atravessando pelas linhas do trem. Quer dizer, tentamos sair correndo. Ela estava mais era coxeando mesmo. Mas tudo bem. Alcançamos o ponto, mas adivinhem? Onibus errado. Tudo certo. Pelo menos agora sabemos que ônibus continuam passando e que teremos alguma chance de chegar a casa. Nesse momento, o caladão (lembram dele?) fala algo sobre o frio na Alemanha, ou faz uma comparação entre o tempo na Alemanha e no Brasil. Qual o problema? Em PORTUGUÊS!!!!!!!!

"Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! Ele fala português ou ele decorou essa frase?" Não sabíamos e não queríamos descobrir. Não demos papo pra ele em português. Não, não, não. Mas, obviamente, eu ri sozinha mais um tempo e ela ficou sem reação, enquanto ele continuava a olhar com aquela cara indecifrável de bobão – seria cara de triunfo? Melhor não pensar. Aqui, entretanto, eu gostaria de lembrar que eu avisei a ela que alguém poderia estar nos entendendo. Ela deu de ombros. Sem mais.

--:-- Agora já era tão tarde que eu não queria mais olhar o relógio. O que faremos? Ok, ok. Nos rendemos. Vamos voltar à casa da amiga do cachorro mijão. Eu sei, ele vai querer dormir com a gente. Afinal, não é lá que ele dorme? Onde a cama estava arrumada? Rs. Eu sei, antes agüentar um cão do inferno quente do que um frio do cão – huhuhu. Como eu to engraçadinha. Isso porque vocês não sabem o que passei... "Liga pra ela, liga pra ela..." "Ok, tudo certo. Ainda temos camas, vamos voltar."

Mais ou menos dez minutos depois, já a meio caminho do lugar onde ganharíamos camas felizes, o que aparece como um ponto de esperança? Um trem, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um treeeem... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Alcançamos o ponto. E?! Era o trem errado... era o trem errado... era o trem errado... E, segundo constam nos autos, o joelho dela já estava latejando. E o meu pé? Que pé? Eu não sentia mais meu pé. No máximo, o cheiro que ele exalava.

"Ok, agora tá decidido. Aconteça o que acontecer, vamos dormir com o cachorro. Não dá pra ficar mudando de idéia assim. Certo?" Certo. Novamente há meio caminho, já tínhamos caminhado o suficiente pra uma eternidade. O que me aparece como um ponto de esperança? Um ônibus, indo em direção ao ponto. Eu gritei: Um onibuuuuuuuus... E ela provou que finge ser manca e correu desesperadamente, há 05 km por hora. Antes de alcançar o ponto, entretanto, uma tragédia. Ela escorregou. Eu estava atrás e consegui segurar – há tempo de ela não cair debaixo do ônibus que já passava do nosso lado. Ela entrou no ônibus, agora com hemorragia interna no joelho operado (isso só fomos descobrir quando ela foi ao medico no dia seguinte), e eu ria. E ela chorava. E eu fiquei com dó e ela riu. No fim, ela me perguntou com um olhar de quem sentia dor e não tava mais entendendo as coisas direito:

“Acontecesse o que acontecesse, nós não íamos dormir com o cachorro?” Ai ai.

Descemos do ônibus, mas, claro, no ponto errado. Um ponto antes! Essa foi minha culpa. Ela já tava fudida mesmo, e eu não tinha pé. Então, ela tirou uma foto minha pra eu postar no blog nossas aventuras pelo dia do Schneechaos.


Eu amo Jena. Eu amo quarta-feira!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ah, Berlim.




Chegar em Berlim teria sido uma emoção, não fosse o fato de que eu babei de dormir a viagem inteira e, quando chegamos, eu so conseguia pensar: merda, eu dormiria mais umas cinco horas. Fato. Eu estava cansada. Devido à danada daquela doença de que já lhes contei. Tomei um remédio que importei do Brasil, mas esqueci que ele dava um soninho...


O Gustavo, por outro lado, não havia tomado remédio algum. Mas, coitado, tão meu amigo. Tao querido... Foi logo colocando em pratica o amor que tem por mim, se condoeu de me ver naquela situação, e me acompanhou. Delicia.







Depois, bom, que eu vi que não tinha mais jeito mesmo de dormir, peguei minha mala, entrei pro Hostel e resolvi relaxar. Já que já to em Berlim mesmo, vamo ver o que tem nessa cidade. Saimos pra passear.

Eu sabia que aquela era a cidade dos meus sonhos mais distantes de realização, e eu queria ver tudo, tudo. Alguem sugeriu andarmos por ai, comermos alguma coisa. Dito e feito. Qual a impressão que eu tive da cidade dos meus sonhos? Não sei. Eu fiquei tão apavorada com o tamanho do lugar que meu alarme brasileiro ligou: Assalto, morte, atropelamento. Fato que me acostumei com a vida tranquiiiila em Jena. Nada com que se preocupar, ninguém pra te matar. E em Berlim, plim. O meu botão de “sempre alerta” foi ligado.

Mas foi ligado com terror. Era uma excursão. Trinta ou quarenta pessoas. Que saíram pra passear, umas 15? Metade daqui desses lados do mundo e a outra metade de chineses. Todas meninas. Andavam como se estivessem em Jena. Ai, quanta tranqüilidade. Conversavam, riam, nem olhavam pros lados. Na hora, eu e Gustavo nos afastamos um pouco do grupo, a uns passos de distancia. Queriamos que elas andassem a uma distancia suficiente pra que víssemos toda a área periférica a elas. Ai, ai. Dá pra entender porque só os estrangeiros não sobrevivem no rio.

Nesse dia, conheci as moças da bota branca.



A gente andando calmamente na rua, e um monte de moças da bota branca nas calçadas. Em primeiro lugar, eu pensei : hm... Cambistas? Isso porque todas elas têm também pochetes, e tinha um moço conversando com uma e que, logo depois, ofereceu entrada grátis pras meninas singelas da minha excursão. Bom. Continuei andando, andando. E vi que as moças da bota branca não diminuíam. Não é possível que tem tanto cambista de bota branca assim na Alemanha. E, de repente, plim! Putas. Refleti, refleti, dava uma olhadinha aqui, outra aculá. Fato é: um taaaaanto de mulher gata. Mesmo! De verdade. Eu não sou nenhuma especialista no assunto (afinal o que fazer com uma puta? Hahaha), mas eu tenho certeza que aqui o negócio é melhor que no Brasil. Eu estava lá, embasbacada com tamanha diversidade e, princiapalmente, com o fato de ser absolutamente normal andarmos na mesma rua em que elas estavam, e... de repente... Uma dessas moças começa a andar exatamente do meu lado e a falar com alguém. Comigo? Comigo? De repente, ela para, eu olho para trás para acompanhar os movimentos da moça e o que acontece? Bato num poste de meio tamanho que estava bem na minha frente. Na hora, um ou dois espertinhos que estavam do meu lado entenderam a situação. Hahahaha. Eu fingi que não era comigo, me endireitei e continuei andando, como se nada estivesse acontecendo. Ah, Berlim!

Dormimos, comemos, fizemos aquelas coisas normais que todo mundo faz e... Bueno, a gte também visitou os lugares lindos que a gente sempre sonhou. O Brandenburger Tor existe mesmo, de verdade, verdadeira. E tem mais um monte de coisas bonitas na cidade. O museu da DDR, por exemplo, é a coisa mais divertida do mundo. Lá a gente pode mexer em todas as coisas que estão expostas. O sonho de toda criança que é obrigada pela mãe a ir ao museu.

Fomos também a um teatro de gosto duvidoso, humor alemão de altíssima qualidade. Hahahaha. E... Não foi nem de longe a minha viagem dos sonhos a Berlim, porque o esquema não era muito o meu. Mas foi a viagem a Berlim, a primeira. E já valeu. Se tudo der certo, volto lá em janeiro. Agora com mais tranqüilidade, pra ser mais feliz.

P.s.: Para ver a maioria dos museus em Berlim, é preciso ter um dia inteiro livre. Não acredite que você vai entrar, ver rapidinho e vai dar tempo de fazer outras coisas. Eu passei de quinta a domingo em Berlim, e tudo que eu fiz foi ver três ou quatro museus (o da DDR, até que é pequeno. Conseguimos em umas três horas, eu acho). A noite, deu tempo de visitar o portão de brandenburgo, um ou outro monumento. Hahahaha. É uma loucura.

Se eu saí a noite? Nããão. Essa vai ser, se deus quiser, uma história pro meu próximo post de Berlim.

E as fotos? Dentro da máquina, eu ainda não consegui tirá-las de lá... ai ai...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como anda a vida?

Sobre a vida noturna em Jena? Melhorou bem... Ui.


Primeiro: coloquei como terminantemente proibida a minha entrada em clubes com fama de nazis ou em que eu já tenha sido empurrada mais de duas vezes. Ou seja, parei de passar raiva. E quanto alguém me chama pra ir, eu respondo: “Desculpe, sou proibida de entrar lá”. Eles me olham com uma cara de “o que será que ela fez?” e tudo fica ótimo. Adoro a discrição estrangeira européia.

Segundo: a verdade é que não tenho 18 anos e, sim, 24, o que já muda certos conceitos de boas e más festas. Os Erasmus (estudantes estrangeiros) estão sempre por aí, na casa dos 18 a 20, o que os coloca no auge da animação. E não só por isso: muitos deles estão ficando longe do papai e da mamãe pela primeira vez, e querem curtir as festas! Tão errados?! Não... Lógico que não... Eu faria o mesmo. Mas não tenho saúde nem dinheiro, e, escolhendo melhor, só ganho.

Há um clube em Jena chamado Kassablanca. E o que eu descobri sobre ele é que é famoso em toda a Europa!!!! Sim, um clubinho aqui de Jeninha famoso em toda a europa. Por quê? Qualidade técnica impecável, djs de primeiríssima, espaço liiindo de morrer. Tem que ter um defeito? Tem: o preço não é de estudante. Mas vale a pena faltar a duas festas de estudantes pra ir ao Kassa uma noite só, moçada. O que mais tem lá? Shows lindos de viver. Outro domingo desse aí tocou uma dupla de irmãos brasileiros. Chorinho e samba, samba e chorinho, sei lá qual é qual. =) Só instrumentos, todos sentadinhos, e eu chorando de saudade da minha terra e pensando: Não há melhor jeito de se apaixonar pelo Brasil do que estando no exterior. Não há. Gustavo, inclusive, escreveu um post ótimo sobre isso, dizendo o que todo mundo queria dizer:

http://ogustavofoiali.blogspot.com/

O Kassa também é finalmente o clube alternativo com que eu tanto sonhei. Gente alternativa!!! Êêêêêê. Significa festa estranha com gente esquisita e até mesmo GAYS!! Sim, Gays. Outro dia teve uma festa de drags, todas as terças é bar gay. Hahahaha. Eu achei foi engraçado. Nunca fui ao dia de viado. Mas fiquei feliz, porque assim, como no Brasil, os lugares alternativos da Alemanha são lotados de gente estranha que é supereducada. Nunca fui tão bem tratada pelos alemães. Nunca recebi tantos pedidos de desculpa pelos encontrões que levei durante as danças! E eu finalmente elegi o meu lugar preferido pra dançar.

E o que mais?! Uma quinta dessas teve uma festa gay em pleno Rosenkeller. O que isso significa? Uma festa gay no centro da cidade tradicional, uma festa gay no bar mais estudantil e movimentado da cidade. E foi ótima também, pessoal. E não havia só gays lá. Conheci um monte de moços heteros e finalmente legais. =) Como eu amo festas alternativas! Como eu amo bicha dançando!!!! Quanta felicidade no meu coração.

Por fim, no mesmo fim de semana, tivemos a festa de aniversário da Annuka e o show dos queridos que vieram de belzonte só pra alegrar nossa semana no evento brasileiro. Nesse dia, vi também o documentário do Simonal com legendas em alemão. Inclusive, toda vez que eu ouço a história do Simonal, fico com a pulga atrás da orelha. Mais ou menos a mesma que eu tenho em relação à danada da Capitu. Um saco esse suspense.

Por fim, festejei até domingo de manhã, conheci um montão de gente mais ou menos doida e me diverti a valer. Esse post tem graça? Não. Mas eu precisava me redimir, porque andei só falando que Jena é um ovo em que não há nada pra fazer a não ser encontrar alemães que passam a mão na nossa bunda. E fiquei pensando... Se eu tivesse em belo horizonte e não conhecesse nada, eu COM CERTEZA ia parar em lugares tipo Sete Cumes (isso ainda existe?! Hahaha) e seria abordada por homens sem camisa e grosseiros. É tudo uma questão de futucar e achar a sua turma. E, sim, Marc, eu amo os alemães que eu amo. Eles são tããããããããããããão legais, ainda com todas as barreiras culturais que não me deixam entender certos comportamentos. Eu amo essa cultura, eu amo fazer supermercado e ter que enfiar uma moedinha de um euro no carrinho. Inclusive, POR FAVOR, leiam esse post do gusta sobre o supermercado. É maravilhoso e superdidático.

http://ogustavofoiali.blogspot.com/2010/11/fazendo-compras.html

Gente, tenho certeza que vou voltar de berlim com ótimas histórias pra contar. Esperem e verão! Não me abandonem só porque o meu aproveitamente nos últimos dois posts não foi o esperado.

Muitos beijos

p.s.: ja voltei de berlim. em breve, quentinhas da capital gelada e sob neve.